domingo, 13 de novembro de 2011

Escrita por encomenda...

marta filipa
Alunos com autismo...
Os alunos com autismo são tão imensamente diferentes entre si como o são as pessoas em geral quando comparadas umas com as outras. Arriscaria a afirmar que são mais as características que os diferenciam do que aquelas que compravam a teoria de que se podem agrupar.
Apesar disto, não será demasiado afirmar que tal como todas as outras pessoas (e por muito que alguns se esqueçam os alunos são pessoas) existem “truques” que funcionam mais ou menos com todos, aos quais podemos dar o nome de metodologias, estratégias, programas, etc.

Logo à partida, num qualquer contacto com um aluno com autismo (tal como com qualquer outro que não se conheça tão bem) funciona manter a “mente aberta”, ou seja, estar atento aos diversos sinais comunicativos que utilizamos e não só ao que é convencionalmente aceite. Ajuda lembrar que as limitações (frequentemente) existentes nas áreas da comunicação e da socialização poderão (consoante a idade do aluno) ter levado, por exemplo, à construção de códigos de expressão muito afastados dos convencionais.

Importante em todas as ocasiões, seja de ensino/aprendizagem, conversa ou numa qualquer atividade do dia a dia (alimentação, indicações) é mostrar-se disponível: mostrar-se corporalmente paciente, falar em tom calmo e com frases curtas, ir variando as palavras que se utilizam se não temos a certeza que são da sua compreensão, exemplificar e sorrir. Tentar que o aluno compreenda que a sua forma de ver as coisas ou de (eventualmente) pensar sobre elas é tão válida como qualquer outra e que a sua dificuldade ou incapacidade numa certa situação é tão banal como é banal que cada um tem as suas limitações.

Por vezes é quase impensável achar que o aluno que está à nossa frente consegue ter funções mentais que o levem a pensar sobre o nosso agir, mas depois de ter conhecido algumas crianças e jovens com autismo atrevo-me a dizer que conseguem sentir.

Sentir o respeito que se tem pela sua incompreensão das nossas regras, dos nossos códigos, a generosidade de ser capaz de lhes facilitar a adaptação sempre que nos seja possível, o investimento em dar-lhe as ferramentas que o ajudam a permanecer confortável.

Às vezes ajuda pormo-nos do outro lado para agir com bom senso, não esquecendo que para além da sua problemática, os alunos são pessoas que têm gostos e preferências, interesses e motivações, necessidades e frustrações e que não são apenas uma bola de barro que depois de aquecida é fácil de manusear, moldar aos nossos desejos e que depois de arrefecer se pode manter para sempre assim.

Uma das grandes vantagens dos alunos com autismo, e acho que de todos os alunos que de uma forma ou de outra se distinguem pela sua diferença, é a sua originalidade marcante, os seus maneirismos próprios, os seus processos mentais simplificados, sequenciados e literais. É a oportunidade de “reolhar” o mundo que sempre conhecemos assim, com outros olhos, com outras lentes, do lado oposto, não sei. 
É ter a oportunidade única de quase fazer parte do mundo onde cada um deles (ou talvez todos) vive (ou gostaria que o deixassem viver).
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tangerine disse...

é provavelmente o melhor livro que já li. parabéns pelo blog, está muito bem conseguido, este foi o post que me mais me chamou à atenção!

Teresa Margarida Costa disse...

bruise: obrigada pela tua visita e pelas tuas palavras :)

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