quinta-feira, 31 de julho de 2014

Partilhamos?


Que nos próximos dias sejam muitos, sejam frescos, sejam divertidos, sejam memoráveis e sejam, claro está, na vossa boa companhia :)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Espaços em Branco

O blog projeto as-sukkar é uma exposição de várias criações realizadas a partir de um pacote de acuçar comum.
Todos os projetos são muito interessantes.
Hoje partilham um projeto de escrita da minha autoria "Espaços em Branco".
Visitem :)

http://as-sukkar.blogspot.pt

http://as-sukkar.blogspot.pt/2014/07/espacos-em-branco-por-teresa-margarida.html

terça-feira, 29 de julho de 2014

Rascunhos #2




Um homem chega a casa e nunca fica verdadeiramente sozinho. 
Pelo menos para Miguel não há momentos de solidão.
Assim que ouve o estalido da fechadura da porta que o separa do resto do mundo quase que pode ouvi-los, magicamente, respirar no seu pescoço.
Eles nunca o largam, nunca o deixam sozinho.
Mesmo quando põe o volume no máximo, eles conseguem fazer-se ouvir. 
Quando escurece toda a casa, eles conseguem fazer-se ver.
Quando se afoga, momentaneamente, na água quente da banheira, eles aguardam pacientemente que venha à toa.
Nunca há um momento de sossego, um momento de silêncio.
São inacreditavelmente reais.
Um deles faz-lhe lembrar a sua mãe já morta e aquele sentimento que sempre sentiu ao seu lado de não ser suficientemente capaz, suficientemente alto, suficientemente robusto, suficientemente sociável.
Outro faz-lhe lembrar o capitão de equipa que o massacrava nos balneários dos treinos de futebol de sábado à tarde. Só de olhar de raspão para o emblema do equipamento que traz vestido quase que pode sentir a dor entranhar-se-lhe na carne como quando ele lhe esmurrava a face com o punho fechado.
Há quem diga que tudo isto tem um nome. 
Miguel quer lá saber do nome que dão a toda esta multidão que dorme consigo na mesmo cama. 
Ele ficaria feliz se lhe dissessem que tem cura. 
Não, não era preciso tanto. 
Ele ficaria feliz se lhe dissessem que é normal. 
Se houvesse uma hipótese de todas as outras pessoas se verem a braços com tamanha confusão, talvez ele próprio se sentisse mais capaz de lidar com isso.
Assim, sentia-se enlouquecer.
Para ele eram como demónios, fantasmas aterradores. 
Não, também não. Pelo menos nem todos.
Não aquele que o fazia lembrar a si próprio com um casaco de xadrez gasto e com um par de óculos grossos que mal conseguia segurar no pequeno nariz e não a encantadora Amélia. Não que ele soubesse o nome de algum deles ou sequer tivesse tido coragem de tentar qualquer espécie de conversação com qualquer um.
Chamava-a Amélia porque se tinha apaixonado irremediavelmente por ela assim que os seus olhares se encontraram. Talvez por ser a mais silenciosa dos seus perseguidores, talvez pela forma como o cabelo castanho lhe tocava na face quando ela caminhava ou simplesmente pelo maravilhoso rosado dos seus lábios perfeitos.
Às vezes, em vez de a deixar ficar ajoelhada, alinhada no fundo da cama,junto com todos os outros, Miguel estendia-lhe a mão para que se deitasse a seu lado, a sorrir, com o rosto serenamente pousado sobre a almofada.
Nessas noites em que quase podia senti-la ali a seu lado, não haveria gritaria, impressão ou gestos dos que permaneciam alinhados, capaz de o perturbar ou de o distrair do direito que sentia de a olhar.

foto de José Luís Martínez Clares

domingo, 27 de julho de 2014

A morte de um super-herói


Especial, emocionante e comovente até às lágrimas (literalmente).
Gostei muito.

sábado, 26 de julho de 2014

Shirley


Um romance publicado pela primeira vez em 1849 é um clássico da literatura universal e percebe-se bem porquê.
De leitura fácil e personagens cativantes torna-se um "mundo" dificil de largar. sendo fã de tudo o que se refere ao séc. XIX e, particularmente sensível, a esta época de emancipação feminina, não será difícil imaginar que fiquei encantada com a densidade destas personagens.
Fica a minha passagem preferida:

"Adoro as suas perfeições; mas são os seus defeitos, ou, pelo menos, as suas fraquezas, que fazem com que eu a atraia a mim, que a ponha no meu coração, que a rodeie do meu amor, e isso, pela mais egoísta e mais natural das razões; porque estes defeitos são os degraus que fazem elevar-me acima dela."


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Renegados #1

Deitada com a face na almofada, fixa os algarismos brilhantes do despertador.
Embora esteja acordada ainda, o alarme ainda não tocou. Podia levantar-se, mas embora esteja de olhos abertos, não sente o cérebro a funcionar. Quase não pensa, quase não vive, quase que ainda dorme.
O contrato estava assinado. 
Desde as dezasseis horas do dia anterior que tinha dado aval para a destruição da obra de beneficência que ditara toda a sua infância.
Na altura sentira-se tão vitoriosa. Tão dona de si, do mundo, da vingança servida fria e descongelada, pois teve que a envolver em gelo para a proteger do esquecimento, dos remorsos, dos amolecimentos do coração ao longo dos anos.
Depois de terminar a assinatura, sentia-se tão satisfeita que por momentos se esqueceu de que já não tinha ninguém a quem servir os 
efeitos da sua vingança.
Esperava, ainda assim, que o seu pai tivesse dado pelo menos uma volta no túmulo quando ela concordou em vender o terreno da velha e imunda Fundação para que um magnata qualquer construísse mais um centro comercial.
Ansiava que, no próximo Domingo, no Hospital de Saúde Mental, a mãe lhe perguntasse se tinha ido levar os bolinhos aos “seus meninos” só para ter o deleite de lhe responder que tinha vendido tudo e que já não sabia onde encontrá-los, vendo-a, em seguida, desfigurar-se em genuíno terror.
Tinha-se deliciado com o ilusório e momentâneo prazer de ter devolvido todas as lágrimas que tinha chorado.
Mas, assim que chegara à rua, inundaram-na de novo todos os fracassos: todos os vestidos iguais ao das colegas que permaneceram nas montras das lojas, porque se comprassem vestidos mais baratos poderiam comprar dois e um seria para fazer feliz uma das suas “irmãs” da Fundação; todos os fins de semana em que teve que andar pela rua com uma latinha a pedir “uma contribuição”; todos os aniversários que teve que partilhar com “os meninos da sua mamã”, apesar do olhar das suas amiguinhas da escola.
Enfim, ao longo do tempo, foi obrigada a fazer felizes muitos deles. Nunca se importaram se ela era feliz.
Ter fechado a Fundação fora a sua forma de alcançar a felicidade, que merecia pois acabara por ser apenas “uma pobrezinha” a quem nunca ninguém tinha tido a obrigação de a fazer feliz!
Mas, agora que o contrato estava assinado, sentia-se irremediável, profunda e igualmente infeliz.
E por isso permanecia deitada, embora acordada.

foto de Vito Paladini

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Namoro ou liberdade?


O enredo é muito igual a muitos outros, mas a diversão e a gargalhada estão garantidas. É um filme alto astral que te vai deixar super bem disposto e com vontade de cometeres, tu próprio, algumas loucuras. E porque não?


terça-feira, 22 de julho de 2014


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Rascunhos #1





























Toneladas de gargalhadas e resmas de conhecedores sorrisos é o que nos oferecem, na maioria das vezes, os conselhos dos outros (normalmente mais velhos ou mais experientes) sobre a forma como acham que devemos levar a nossa vida.

À medida que vamos vivendo por nossa conta e segundo a nossa cabeça,à nossa memória aflora-se com frequência aquilo que nos disseram.
Umas vezes a alma enternece-se, confirmando as suas ideias,
outras vezes diverte-se, gloriosamente, com a ingenuidade do que nos queriam fazer pensar.
Num tempo em que tudo o que acontece parece já passado, sem solução e sem valor, não há lugar para planeamentos, indecisões, prevenções ou para breves segundos de discórdia entre o que desejamos e o que devemos fazer.
Daí que, quando a vida dá a volta por baixo, roda o desequilíbrio, o errado, traz o que nos magoa, o que nos desinteressa, não há outra forma de lidar com a situação senão fugir e esperar que a roda rode e nos volte a levantar.
Os mais incautos,aventureiros e desprevenidos empurrarão a vida para o novo, para o belo, para o que nos atrai.
Se o futuro será presente em escassos momentos, não há forma ou lugar para remedeios, para usar linha resolvendo pequenos rasgões ou pedaços de pano colorido para remediar os grandes danos.
Já não há tempo, já não há espaço, já não há hábito….
Num futuro muito próximo deixará até de haver panos.

Por que motivo quereriam as pessoas (as mesmas que vivem como se já tivessem morrido) de gastar o tempo com arranjos de situações velhas se tudo é substituível e o novinho em folha é semelhante e a baixo preço?

domingo, 20 de julho de 2014

Writers



Não é um filme fantástico. Torna-se até um pouco aborrecido pela sua previsibilidade, mas há algo nele que o torna de tal forma familiar que é impossível não nos depararmos, aqui ou ali, com as nossas próprias fraquezas.

sábado, 19 de julho de 2014

Sobre a memória...

"Chegará uma época - disse eu - em que todos nós estaremos mortos. Todos. Chegará uma época em que não restarão seres humanos para recordar que alguém sequer existiu ou que a nossa espécie alguma vez fez alguma coisa. Não sobrará ninguém nem para recordar Aristóteles ou Cleópatra, quanto mais a ti. tudo o que fizemos e construímos e escrevemos e penámos e descobrimos será esquecido, e tudo isto - fiz um gesto envolvente - terá sido em vão. Talvez essa época esteja para chegar em breve, ou talvez esteja a milhões de anos de distância, mas, mesmo que sobrevivamos ao colapso do nosso Sol, não iremos sobreviver para sempre. Houve uma época antes de os organismos adquirirem a consciência, e haverá uma época depois disso. e se a inevitabilidade do esquecimento humano te preocupa, incito-te a ignorá-lo."

A CULPA É DAS ESTRELAS - John Green

Pecados Escondidos


"Agora era uma senhora casada e deixara de ser uma menina ingénua e protegida. A ideia não deixava de ser atrativa. A mesada também recebia um aumento significativo, se a memória não lhe falhava em relação aos comentários do pai sobre o acordo de casamento. Isso seria muito conveniente."

Mais um livro resgatado de uma prateleira qualquer.
Em nada o interior contrasta com a capa. É tal e qual o que se espera.
De fácil leitura, sem tramas difíceis ou de alguma forma originais. Sem lições de moral ou algum tempo de pensamento profundo.
Doce e vazio, tal e qual como se quer nas noites de insónia.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Dê a sua opinião #3

Bem...
Como acho que acontece a toda a gente acredito sempre que consigo fazer mais coisas do que aquelas que efetivamente faço. Daí ter estado tantos dias sem colocar mais textos. Desculpem.

Neste post deixo o último texto em consideração, agradecendo mais uma vez aos assíduos leitores e aos comentários que foram fazendo no blog, facebook, e-mail e alguns até por telefone.
Para além dos comentários habituais, agradecia que escolhessem o vosso preferido. 
O projeto será escolher um deles, sem possibilidade de alteração. Aquele que gostam mais, aquele que vos parece mais demonstrativo do meu estilo de escrita.
Não se envergonhem.
Um beijo,
T.

" Camisa de xadrez

Acordo.
Sinto a humidade por cima do cobertor gasto com que me cubro.
Está frio.
Estou encarquilhado, dorido da tentativa de me aquecer com o próprio corpo e da dureza do chão que consigo sentir debaixo do fino colchão.
Olho-te enquanto visto a minha velha e característica camisa de xadrez e coloco a minha boina, já coçada do uso, por cima da cabeça.
Há décadas que uso a mesma boina e as parecidas camisas de xadrez.
Há décadas que te olho ao acordar, enquanto dormes assim, com o cabelo espalhado sobre a cara e o corpo encolhido.
Nunca tivemos mais do que estes trapos e estes tarecos…
Nisso, o povo sempre teve razão…
Nunca chegámos a lado nenhum, como eles sentenciaram quando éramos jovens e só pensámos em beber e fumar…
Por diversas vezes, batemos num fundo ainda mais fundo do que o anterior.
Por diversas vezes, tivemos que nos esforçar por viver mais de acordo com o que o povo acha importante.
Muitas vezes tivemos que pedir ajuda e muitas vezes tivemos que suportar os olhares de pena, reprovação e indignação daqueles que outros pagam para nos “pôr na linha”.
Houve até alturas em que a tua companhia me cansou, em que vi na tua desgraça o espelho da minha e em que imaginei (ou talvez não) a tua amargura por tudo o que não conseguimos construir.
Hoje, ao sentir o calor do sol na cara durante o trajeto até à vila, sinto-me feliz por te saber à minha espera quando voltar, por te saber parte de um todo que só existe quando estamos juntos.
Porque o que o povo não adivinhou foi esta cumplicidade, este carinho, esta dedicação que para os que cumprem as regras é amor, mas que para nós eles achavam não passar pura luxúria.

Porque não quer ainda o povo reconhecer que o verdadeiro amor não segue regras e não se alimenta de razões, mas sim de invisíveis e inesperadas ligações a que, até os de quem nada se espera, podem aspirar…. "


sábado, 5 de julho de 2014

Dê a sua opinião #2

Nos próximos dias colocarei textos meus que gostaria que comentassem: se gostam, se não percebem, se se perderam, se não conseguiram ler até ao fim. 
Eu já seleccionei os que gostava mais, mas só vou poder escolher um (também ainda não posso revelar para quê). 
Como devem todos perceber, é muito difícil analisar e escolher os próprios textos, porque só temos a nossa visão sobre eles e sobre o que nós próprios escrevemos.
Por isso, decidi incluir o público.
Dão-me uma mãozinha?!
Ah! Não tenham medo de escrever comentários negativos. Sem eles não posso melhorar e há sempre por onde melhorar, certo?
Dito isto, fica o segundo.
Obrigada :)

" Miguel, apesar da sua aparência leve, conferida pelos seus mal feitos trinta anos, quando pousa a mão na maçaneta da porta e a empurra para a abrir, suspira. Um suspiro pesado, mais para ganhar esperança do que em sinal de cansaço,
Neste simples gesto diário deixa para trás a leveza da sua idade, do seu poder económico, da sua posição social. Ficam nas suas costas, os sorrisos sedutores que as mulheres lhe dedicam, os convites para as jantaradas, as noites de cinema. Fica para trás a juventude, a liberdade, o descompromisso.
Miguel foi nascido e criado para ser risonho, feliz, cuidado. Esperava-se que tivesse barcos, motos, que viajasse muito, que tivesse quadros em galerias dos casinos e que no fim de cada dia, respondesse “Correu tudo bem, querida!”, com o desprendimento habitual de quem não sabe que existe a hipótese de ter corrido mal.
Esperava-se dele exatamente tudo o que fez até aparecer a especial Diana.
A querida, a quem nunca respondeu a nenhuma pergunta.
Aquela que o espera sempre com o mesmo olhar sorridente, companheiro, expectante.
Desde o aparecimento de Diana, que todos os fins de tarde, sai disparado do emprego tradicional que entretanto arranjou com o propósito de oferecer a Diana o melhor, sempre o melhor, só o melhor.
Vai diretamente para casa onde agradece a Maria, enquanto olha, sorrateiramente, para Diana que lhe sorri com o olhar.
Apesar das costas doridas, vai pegar nela e sentar-se no chão para brincar com ela aos encaixes e jogos de imitações.
Ansioso, procurará progressos e desesperar-se-á milhares de vezes em segundos por não os conseguir ver.
Apesar disso, vai manter sempre uma expressão falsa e familiar de serenidade.
Porque é o que Diana precisa!
E quando se sentir a esmorecer interiormente, sentirá a força com que ela agarra a sua mão, ouvirá o som da sua gargalhada e, por breves momentos, ela olhará diretamente para si.
Ganhará o dia. Ganhará a vida. Ganhará a força necessária para enfrentar o resto do dia, no resto dos dias…
E bem que precisa. Como Diana não pode falar, nem caminhar, ele espera saber como correr por ela e como deixá-la relacionar-se através dele.
Espera saber como incentivá-la a sonhar, como ensiná-la a ser feliz…

É por tudo isto que, quando Miguel chega a casa, antes de colocar a chave na porta, respira fundo: o seu dia só naquele momento está prestes a começar!"

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Dê a sua opinião #1

Nos próximos dias colocarei textos meus que gostaria que comentassem: se gostam, se não percebem, se se perderam, se não conseguiram ler até ao fim. 
Eu já seleccionei os que gostava mais, mas só vou poder escolher um (também ainda não posso revelar para quê). 
Como devem todos perceber, é muito difícil analisar e escolher os próprios textos, porque só temos a nossa visão sobre eles e sobre o que nós próprios escrevemos.
Por isso, decidi testar o público.
Dão-me uma mãozinha?!

Ah! Não tenham medo de escrever comentários negativos. Sem eles não posso melhorar e há sempre por onde melhorar, certo?
Dito isto, fica o primeiro.
Obrigada :)

"Quando me disseram que me tinhas abandonado, odiei-te!
Inundou-se todo o meu corpo de raiva, injustiça, impotência.
O interior do meu ser construiu-se de puro desespero e escuridão. Odiei-te no profundo do meu ser.
Preenchi todos os pedacinhos da imagem que inevitavelmente inventei de ti, com maldades, egoísmo e indiferença. O expoente do horror e da crueldade.
Nunca te esqueci, apesar de me teres largado no chão frio de um pátio qualquer e nem uma singular lembrança teres tido oportunidade de construir entre nós. Guardei-te, ainda assim, em metade do meu coração e segui com a minha vida, fingindo não te pertencer irremediavelmente.
Soube hoje da tua morte.
Existe esta habitual estupidez da vida em nos trazer sempre notícias daqueles a quem não querermos sentir-nos ligados, de quem não queremos ouvir falar.
Há uns anos que, de metade do meu sentir, passaste a ocupar apenas um pequeno espaço. A vida seguiu, modificou-se.
Há exatamente dois anos, cinco meses e dezasseis dias que o dobro do meu coração é ocupado pela tua bela neta. Deixei de ter espaço para te odiar.
Quando olho para a minha filha, reconheço a tua dor e compreendo a tua decisão. Sei que só podes ter sofrido o pior dos castigos, vivendo coberta de remorsos, culpa e saudade.
Sei isso porque jamais conseguiria viver sem a minha menina. Amo-a para além de mim, para além da vida, para além de tudo o que é possível entender, sentir, perceber.
E, no entanto, seria, eu também, capaz de viver despedaçada, incompleta, de morrer em vida, se tal se me afigurasse como melhor para ela.
Percebo o teu tormento e ofereço-te, em misericórdia, o meu perdão.
Dizem os velhotes, teus contemporâneos, que sempre foste uma alma fraca e atormentada. Que nunca tiveste sorte na vida. Que sempre foste uma coitada.
Dizem que foste castigada pelo vício, pela violência, pelo modo de vida sem regresso em que te deixaste cair.
Comentam que depois de deixares os teus filhos, passaste a deambular, dia após dia, perto da escola para nos poderes ver. Dizem que as lágrimas te lavavam a face macilenta e que a tua dor te consumiu a alma.
Sinto remorsos pelo mal que te quis. Foi a tua escolha que fez de mim uma pessoa forte, uma mulher com uma família feliz e uma mãe capaz de receber e retribuir o sorriso da sua filha."
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