Nos próximos dias colocarei textos meus que gostaria que comentassem: se gostam, se não percebem, se se perderam, se não conseguiram ler até ao fim.
Eu já seleccionei os que gostava mais, mas só vou poder escolher um (também ainda não posso revelar para quê).
Como devem todos perceber, é muito difícil analisar e escolher os próprios textos, porque só temos a nossa visão sobre eles e sobre o que nós próprios escrevemos.
Por isso, decidi testar o público.
Dão-me uma mãozinha?!
Ah! Não tenham medo de escrever comentários negativos. Sem eles não posso melhorar e há sempre por onde melhorar, certo?
Dito isto, fica o primeiro.
Obrigada :)
"Quando me disseram que me tinhas abandonado,
odiei-te!
Inundou-se todo o meu corpo de raiva,
injustiça, impotência.
O interior do meu ser construiu-se de puro
desespero e escuridão. Odiei-te no profundo do meu ser.
Preenchi todos os pedacinhos da imagem que
inevitavelmente inventei de ti, com maldades, egoísmo e indiferença. O expoente
do horror e da crueldade.
Nunca te esqueci, apesar de me teres largado
no chão frio de um pátio qualquer e nem uma singular lembrança teres tido
oportunidade de construir entre nós. Guardei-te, ainda assim, em metade do meu
coração e segui com a minha vida, fingindo não te pertencer irremediavelmente.
Soube hoje da tua morte.
Existe esta habitual estupidez da vida em nos
trazer sempre notícias daqueles a quem não querermos sentir-nos ligados,
de quem não queremos ouvir falar.
Há uns anos que, de metade do meu sentir, passaste a ocupar apenas um pequeno espaço. A vida seguiu, modificou-se.
Há exatamente dois anos, cinco meses e
dezasseis dias que o dobro do meu coração é ocupado pela tua bela neta. Deixei
de ter espaço para te odiar.
Quando olho para a minha filha, reconheço a
tua dor e compreendo a tua decisão. Sei que só podes ter sofrido o pior dos
castigos, vivendo coberta de remorsos, culpa e saudade.
Sei isso porque jamais conseguiria viver sem
a minha menina. Amo-a para além de mim, para além da vida, para além de tudo o
que é possível entender, sentir, perceber.
E, no entanto, seria, eu também, capaz de
viver despedaçada, incompleta, de morrer em vida, se tal se me afigurasse como
melhor para ela.
Percebo o teu tormento e ofereço-te, em
misericórdia, o meu perdão.
Dizem os velhotes, teus contemporâneos, que
sempre foste uma alma fraca e atormentada. Que nunca tiveste sorte na vida. Que
sempre foste uma coitada.
Dizem que foste castigada pelo vício, pela
violência, pelo modo de vida sem regresso em que te deixaste cair.
Comentam que depois de deixares os teus
filhos, passaste a deambular, dia após dia, perto da escola para nos poderes
ver. Dizem que as lágrimas te lavavam a face macilenta e que a tua dor te
consumiu a alma.
Sinto remorsos pelo mal que te quis. Foi a
tua escolha que fez de mim uma pessoa forte, uma mulher com uma família feliz e
uma mãe capaz de receber e retribuir o sorriso da sua filha."
Bem vou arriscar um comentário :S
Gosto bastante, mas falta algo, não sei explicar bem o quê, mas acho que precisa de algo mais para me conseguir identificação com essa mulher e com a sua realidade (e com isso gostaria mais ainda).
beijinhos Teresa :)
Olá, Arminda :-) desde já obrigada por arriscar ser a primeira a avançar. Penso ter entendido o que quis dizer. Bjinhos :-)
Será que escreveste este texto a contar as palavras? Não sinto que falte algo na personagem em si, ou sentimentos nas suas palavras, mas sim ligações entre um sentimento e o outro. A raiva, a alegria pela sua filha, o perdao, um amor final. Não seria fácil para ninguém ter este discurso sem sentir isso tudo, sem pausa para pensar nas melhores palavras e da forma como o escreveste parece que ela salta de uma coisa para a outra sem nenhuma dificuldade. Estás a perceber? Acho que uma forma engraçada de contornares isso era trabalhares o texto graficamente. Parágrafos maiores, espaçamentos maiores, negritos, Itálicos, umas letras maiores que as outras. Acho que seria algo a experimentar e dava um outro impacto ao discurso.
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