sábado, 22 de maio de 2021

"Assim podia ler na cama. Os livros"

"O puro desperdício. Para me vingar da pobreza em que cresci. Só havia luz numa divisão, ia-se para a cama às escuras. Os poucos centavos da mesada que recebia gastava-os em pilhas, para uma lanterna de bolso. Assim podia ler na cama. Os livros, roubava-os. Livros não devem custar nada, era o que eu achava então e ainda hoje penso o mesmo. Passavam a vida a cortar-nos a eletricidade por não pagarmos as faturas. Cortar a luz  - nunca me hei--de esquecer da ameaça. São sempre aquelas coisas simples que nunca conseguimos ultrapassar. Como aquilo que cheirava; o ardor depois da bofetada; o modo súbito como a escuridão inundava a casa; a grosseria de praguejar do pai."

Comboio Nocturno para Lisboa
Pascal Mercier





Eu nunca roubei literalmente livros, mas li todos os livros de todas as bibliotecas pessoais que encontrei até a vida adulta me apanhar com a falta de tempo para fazer mais do que ir lendo aos poucos as bibliotecas dos que me rodeiam e da minha também....
A mim nunca vieram "cortar a luz" mas a expressão é-me familiar e poderia ter acontecido se lá em casa os adultos não soubessem priorizar e vivessem todos eles em função de nós... os mais novos... 
Apesar disso também li às escondidas. Assim que aprendi a ler, para mim foi como se me tivessem dado asas e passei a ser uma " ratinha de biblioteca". Lia a toda a hora, lia o que queria porque as.bandas desenhadas que se trocavam entre os miúdos da altura não me chegavam. Também as lia, mas duravam pouco e não me lembro de ter realmente prazer em as ler.
Lembro-me de a minha avó, durante as férias de verão em que tinha os netos todos em casa e a porta sempre aberta para brincar na rua (depois da hora de maior calor) me aconselhar ( até me convencer) a ir brincar lá para fora e largar os livros. E lembro- me bem de com uns 7 anos ter um quarto criado numa parte da sala adaptada só para mim, porque eu achava que era crescida e queria um quarto só para mim. Esse espaço para além de estar dividido por degraus da sala de estar também tinha um cortinado, mas era claro e eu conseguia ter luz suficiente para ler depois de ser suposto estar a dormir...
Fui apanhada algumas vezes e agora percebo que nunca seria muito tempo porque estava cansada e não me lembro de ler muito, mas durante anos ponderei secretamente se esse não teria sido o motivo para passado alguns anos ter passado a "usar óculos ".



segunda-feira, 10 de maio de 2021

O poder da palavra escrita

 " De novo se perguntou para quem estava a escrever o diário. Para o futuro, para o passado - para uma era provavelmente imaginária. E diante dele erguia-se-se, não a morte, mas o aniquilamento. O diário seria reduzido a cinzas, e ele próprio vapor. Só Polícia de Pensamento leria aquilo que ele escrevera, antes de o varrer da existência e da memória. Como podia apelar-se ao futuro quando nem o menor vestígio de nós próprios, nem mesmo uma palavra anónima rabiscada num bocado de papel, tinha a hipótese de sobreviver fisicamente."

George Orwell - 1984




segunda-feira, 3 de maio de 2021

O Prisioneiro do Céu

 


Um daqueles livros em que se pega e em que só se pára para comer ou ir trabalhar. Como se se estivéssemos a ver um filme, não queremos parar e conseguimos até umas gargalhadas solitárias. Fantástico!

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