"
A vida escorre por mim devagar.
Os dias aos quais calmamente se seguem as noites.
Cada vez maiores.
(...)
As pequenas desilusões deixam o espírito inquieto.
Sei que não existe um caminho mais fácil para viver com consciência tranquila.
Sei que não existem soluções simples para o ser complexo que descobri em mim.
Fui descobrindo com o tempo que o tempo não faz mais do que correr e que tudo o resto que lhe atribuímos é antes fruto do nosso esforço, da nossa inconstância.
(...)
Quebrei a custo as pedras da gruta onde me prenderam por anos ou onde me deixei esconder.
Continuo sem certezas sobre isso.
Ou tão pouco sobre as razões, os motivos, as justificações.
(...)
Rasguei de novo a pele das cicatrizes mal curadas ou nas infeções que não sabia existirem.
Percebo que o mundo que descobri não era o mundo que tinha construído em mim (...)
Já não quero estar exposta ao calor abrasador do sol, ao encanto irresistível da sombra verde ou ao apelo excitante da imensidão do mar.
Dou por mim a fechar de novo as janelas demasiado rasgadas que abri para o mundo.
(...)
Quero ver de dentro para fora.
Quero ver o efeito das rajadas de vento protegida no meu calor.
Quero observar as tempestades de areia protegida sob o meu teto.
Arrumei na gaveta o espírito aventreiro e a vontade de arriscar.
Descobri o que queria e vivi tudo o que no momento conseguia suportar, mas mais perdida me encontro no meio destes seres em quem não posso confiar.
Páro e já não sinto nenhum carinho especial por nenhum dos caminhos a seguir.
Cansei-me de caminhar sozinha (...)
Não encontrei nos meus trilhos quem me soubesse acompanhar.
Quero voltar ao lugar seguro do qual me libertei.
Já não quero deixar-me convencer pelas hipóteses.
Fico.
Assim.
Tentando desenhar vasos de cerâmica colorida onde colocarei, quando o conseguir, algodão doce de onde florescerão ramos de estrelas recheadas dos sonhos que sei ter o direito de viver.
Um dia.
Outro dia.
Depois. "
T. 12/2005
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