segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A vida não é aqui - 2

No estilo muito próprio do autor, desenrola-se sob os nossos olhos a vida de um poeta recheada de trivialidades, acasos e coincidências.
Aqui e ali, surpreende-nos com verdades que nos arrepiam deixadas assim, como ao acaso, entre uma linha e outra.



" Existe um certo número de perguntas femininas clássicas que todo o homem encontra mais cedo ou mais tarde na sua vida e para as quais os estabelecimentos de ensino deviam preparar os jovens. Mas Jaromil, como todos nós, frequentava más escolas e não sabia que responder; esforçou-se por adivinhar o que a rapariga gostaria de o ouvir dizer, mas senti-se embaraçado."

"Olhou outra vez para o diário e verificou que a data assinalada pelos pontos de exclamação nada mais havia. É assim, para um homem tudo acaba no dia em que consegue ir pela primeira vez para a cama com uma mulher, pensava ela com amargura."

" Entre as numerosas visitas de Jaromil à cave da rapariga ruiva, gostaríamos de mencionar em especial a que lhe fez um dia em que ela tinha posto um vestido cuja parte da frente, da gola até à bainha, estava cosida uma fila de botões brancos. Jaromil começou a desabotoá-los e a rapariga rebentou a rir, porque aqueles botões eram apenas um enfeite.
- Espera aí. vou despir-me sozinha - disse ela (...)
(...)
(...) No seu espírito, a diferença entre um desnudamento amoroso e um tirar de roupa vulgar consistia justamente no fato de a mulher ser no primeiro caso despida pelo amante.
Não fora a experência a inculcar-lhe esta conceção, mas sim a literatura e as frases sugestivas: ele sabia despir uma mulher ou então desabotoou-lhe a blusa com um gesto ágil. Jaromil não conseguia imaginar um amor físico sem um prólogo de gestos confusos e impacientes que desapertam botões, puxavam fechos-éclar, despiam camisolas."


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