Li-o por volta dos oito anos (ou antes disso) e nunca mais me esqueci dele.
Apressado, intenso, com uma simetria literária impressionante e tão original.
" O jovem corre... corre com todas as suas forças, corre como jamais correu na sua vida, corre, sem dúvida, como jamais voltará a correr. À sua volta Ruão está imóvel, deserta e sombria, com um imenso animal morto - ou como uma armadilha que se fechou. Ruão é um deserto; o Sena, um lago de chumbo. As pontas erguem, acima do rio, arcos inúteis. O céu lembra uma tampa, a abafar tudo. O jovem corre. Procura ar, de boca escancarada, e não sabe o que o sufoca. O campanário da catedral eleva-se como um jacto de pedras frias, a que corresponde na margem esquerda a torre de betão frio, iluminada como um farol deserto. Ruão está vazia. Atrás das janelas, dos portões, das portas, as pessoas dormem. É o 15 de Agosto. As pessoas jantaram e depois adormeceram, satisfeitas. Nem sequer se mexem,no seu sono, quando os passos precipitados do jovem ecoam nas ruelas desertas. Ressonam. O jovem corre cada vez mais depressa, como se quisesse recapturar o tempo. Mas isso é impossível, e ele não o ignora. Lágrimas inconscientes descem-lhe docemente ao longo do nariz e penetram-lhe na boca aberta. Abranda a corrida, sem fôlego. Danièle morreu."
imagem de Marta Filipa Costa
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