Cada coisa em seu lugar
E nada como um dia após o outro
Pois, é mesmo sobre isso que penso dia após dia aqui neste solarengo descanso que a vida me trouxe depois da húmida e grandiosa tempestade.
Se ainda sinto a humidade nas roupas que se colam na pele?
Sim, sinto.
Mas cada coisa em seu lugar, cada minuto por si mesmo, cada dia a ser o bastante para fazer a vida ser vivida, cada instante saber conter a respiração e largá-la apesar da beleza estonteante dos espaços com que me rodeio.
Por que apressar?
Se nao sabe onde chegar
Correr em vão se o caminho é longo
Se espero pacientemente que sequem completamente?
Não. A paciência extra que me assumiu durante a tempestade abandonou-me assim que me senti chegar a terra firme.
Os cheiros, as sensações, o gosto doce da vida em terra quente e segura fizeram-se renovados em mim, mais maravilhosos ainda, se tal fosse possível. Criou-se em mim a pressa de os retomar a todos.
Tal como espreitam por trás do meu ombro os receios, os medos e a frustação da espera e das não conquistas (que aparecem aqui e ali).
Quem se soltar,
da vida vai gostar
E a vida vai gostar
de volta em dobro
É talvez deste gosto da vida que me aparece esta força de deixar atrás das costas aquilo de que não quero gostar. As ideias onde não me quero demorar.
Estico o meu corpo ao sol, fecho os olhos, murmuro para mim mesma o quanto a natureza tem o poder de me conter e apaziguar e é quando os abro que o mundo, a vida, o acaso, a sorte ou tão somente o caminho escolhido me presenteiam com as cores brilhantes do sol do mar, com o som da areia debaixo dos pés e o cheiro húmido da maresia.
Apesar de exigente e batalhadora, a vida conseguiu surpreender-me no cuidado que me tem prestado.
E se tropeçar
Do chão não vai passar
Quem sete vezes cai,
levanta oito
Se tenho medo de que a tempestade volte? Se me preparo para ela? Se faço por esquecer que a vida se faz em ciclos?
Não tenho medo, mas continuo consciente que a vida decorre em ciclos.
Não creio que me prepare para a tempestade.
Arrepia-me por vezes esta quietude.
Esta aparente paragem na minha mó, mas sei que ela se move, sei que lentamente prepara um novo desafio.
Talvez tenha simplesmente aprendido que não posso controlar o que está por vir.
Acredito que o melhor ainda está à espera de ser merecido, compreendido, apreciado.
Tenho uma certeza interna de que o caminho se faz mais certo a cada passo.
Sei que se cair, demorarei e até posso chorar um pouco, mas lá me voltarei a levantar, com mais ou menos feridas, com mais ou menos cicatrizes, com mais ou menos esperança de um dia melhor.
Quem julga saber
E esquece de aprender
Coitado de quem se interessa pouco
Não me deixe esta segurança interna prender em mim.
Que me lembre sempre de que o interesse está nos outros e que o verdadeiro significado de tudo está na partilha do que vive, do que se sente, do que se gosta de verdade.
Que as desilusões que se encontrarão comigo pelo caminho não me permitam perder o muito interesse na descoberta do que vale realmente a pena fazer-se revelado.
E quando chorar
Tristeza pra lavar
Num ombro cai metade do sufoco
Se me acompanho de bons ombros?
Sempre que preciso.
E ainda preciso.
E sinto que talvez vá precisar sempre.
Mas sei onde existem os ombros, os carinhos, os beijos
e os olhares que me apaziguam as chuvas miúdas e as grandes tempestades.
e os olhares que me apaziguam as chuvas miúdas e as grandes tempestades.
E sem se queixar
As peças vão voltar
Pra mesma caixa no final do jogo
É tão isso :)
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