sábado, 21 de outubro de 2017

Ainda se fala de Amor por aí?


" Vamos, nós, falar de Amor?

O amor é talvez dos temas sobre o qual mais se escreve ou se escreveu ao longo de todos os tempos.
Continua a ser um grande mistério, mesmo no final da vida, quando todos assumem aquele ar sábio e misterioso de quem desvendou a maioria dos mistérios da juventude e das dificuldades da vida adulta. 
Permanecem sempre, ao longo de toda a vida, segundo parece, grandes dúvidas sobre o amor, profundas hesitações sobre as palavras a utilizar para o explicar ou recomendar, demorados silêncios na hora de dar conselhos acerca dele.

Ao longo do tempo também eu fui amealhando ideias sobre o Amor.

Há uns tempos percebi que a expressão " be in love" é muito mais esclarecedora do que "estar apaixonado" porque imprime logo a imagem mental de se estar imerso, que é exatamente o que se sente quando se está apaixonado. Esclarece mais rapidamente a sensação de não sentirmos o peso do nosso corpo, podendo aproveitar-nos desse estado "in" para suavizar a nossa caminhada, as contrariedades do nosso dia a dia ou as nossas feições faciais... 

Ou...

Ou podemos ficar irremediavelmente "in" como "em lama" ou areia que nos cansa o corpo e nos tolda a mente, como carga que se acresce ao peso diário que todos suportamos na vida. 

Ficou claro para mim, que a sociedade reconhece o amor como algo que nos faz bem, que é melhor para nós do que estarmos sozinhos, tendo muita dificuldade em entender outros tipos de amor ou de relação.
Esquecem-se que o Amor romântico, que se gera no coração, não tem explicação nem retribuição obrigatória. 
É a nossa mente que ama com a razão, que se agarra às certezas, às demonstrações de carinho, às retribuições.  
O nosso coração fica "in" e pronto! 
Mesmo que se revele um "in" que a nossa razão gostaria de tornar num "out". 
Quando o coração Ama, Ama incondicionalmente. 
Ama até o que se revela imperfeito, doentio, inconstante.
No entanto, é quase unânime para a sociedade 
que o amor por outro não é possível antes do amor por nós próprios 
e que depois de supridas todas as falhas que julgamos ter na nossa vida,
depois de alcançado todos os objetivos de um dado momento,
se cria em nós um excedente de amor, atenção, carinho, afeto 
que, como seres sociais que somos, temos que canalizar para alguém 
e que o objeto desse nosso amor pode até nem Ser nada do que vemos nele.

Há quem diga também que este processo interno de criar num outro aquilo que queremos ver nele,
esta ilusão que é mais construída pelas nossas necessidades do que pelas mentiras que esse alguém nos conta,
é tão forte e intrínseca no nosso ser, 
que não há desilusão, trazida pelos rasgos da realidade, 
que a possa destruir.

Das histórias e das vivências vão sempre ficando regras, certezas, pensamentos que nos espantam pela sua incrível lógica, pelo quanto poderiam ter servido de antecipação.

Das histórias e das vivências vão ficando sempre esperanças, ilusões, portas abertas de quem,
enquanto viver, 
acreditará que para todas as regras foi criada uma exceção."    T.  abril 14





Lembrei-me deste texto há uns dias a propósito da expressão "fall in love".
Dentro do mesmo raciocínio também me parece tão mais gráfica do que a tradução. 
Eufemezida na doçura da palavra que se lhe segue, define esta queda brusca, inesperada, em alta rotação. 

Sem aviso prévio, sem proteção. 
Uma forma tão mais esclarecedora de remeter para o processo de se saltar do mundo como o conhecemos,
renunciando à terra firme, ao porto seguro,
para, de certa forma voluntariamente, nos lançarmos neste poço escuro e estreito
 assim que  soltamos a segunda mão. 

Não haverá, possivelmente, outra forma de apreciar tão completamente
 a imersão do corpo na água fria do fim do poço.

Existe, talvez, a necessidade desta dramática queda
para deixar em alerta todos os poros do nosso corpo,
acordar o profundo do nosso ser, 
de modo a que a clareza da água nos possa envolver completamente,
da mesma forma que só um bom Amor pode fazer acontecer.



fotografias de Marta Filipa Costa 

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