quarta-feira, 4 de abril de 2018
Jazz...
Infelizmente é quase impossível partilhar todas as sugestões interessantes que se esbarram comigo ou mesmo as que de facto experimento e gosto a tempo de que ainda possam usufruir da mesma experiência.
Foi o caso da Festa do Jazz. Normalmente acabo já por não falar sobre esses momentos, ficando mais alerta para o caso de voltarem a aparecer para poder partilhar a minha opinião, mas neste caso a grandiosidade da experiência merece, só por si, uma publicação.
Apesar do evento me ter sido sugerido com bastante antecedência nunca se transformou numa prioridade, apesar de gostar muito de ouvir jazz ao vivo.
Depois, num dia qualquer, fui ver melhor a descrição do evento e fiquei encantada pelos espaços escolhidos para os espetáculos ( só mais tarde percebi que esses espaços alternativos foram literalmente alternativas encontradas pela exclusão do festival das salas habituais). A mim chamou-me a atenção! Museu da História Natural e Ciência com espetáculos de jazz pareceu-me uma conjunção particular.
Só tínhamos horário para ir ao último espetáculo de sábado, foi assim que escolhemos. Ficou sempre meio que indecisa esta decisão de ir. Chovia. Podia não dar tempo. Se calhar a sala estava cheia.
Felizmente que o meu companheiro nestas atividades é de fácil trato e muita flexibilidade no cumprimento dos programas e, na verdade, a noite chegou para tudo o que queríamos fazer.
Lá demos o donativo (não achei grande graça que depois de terem apresentado o valor como donativo tivéssemos que mostrar o comprovativo do mesmo uma data de vezes). Um donativo é um donativo. Um bilhete é um bilhete e as coisas devem ser claras, mas ainda assim... percebo que algumas circunstâncias atenuem esta pequena distorção.
A sala (um antigo picadeiro não tinha nada de especial: cheirava a pó e a humidade e estava ainda mais fria do que a rua. Esperámos tempo demais num corredor com demasiada gente antes de entrarmos na sala.
Mas assim que a música começou tudo isso deixou de ter qualquer importância.
Maravilhosas composições e voz. Incrível ver a voz tornar-se assim como que apenas mais um instrumento em palco (literalmente). E não só a voz como o próprio corpo.
Adorei o plástico por se ter apresentado como uma tal harmoniosa interligação entre o clássico e o contemporâneo. Uma evidente quebra das regras melódicas habitualmente ouvidas por mim.
E como se tal já não fosse por si só mais do que suficiente, a simpatia, leveza e bom humor da vocalista e a generosidade dos artistas foram como cereja no topo do bolo (para quem gosta- que, por acaso, não é o meu caso).
Tudo tão desprendido de códigos e pretensões.
Só arte criada, apresentada e recebida com a particularidade própria das experiências pessoais.
Para mim, em muitos momentos foi como se a música me tivesse levado dali para um lugar que não sei identificar, onde o frio e o cansaço desapareceram. Um daqueles momentos em que a felicidade se torna quase palpável e pensas para contigo que alguma coisa deves ter feito bem, não só para a maravilhosa oportunidade de viver esta experiência, mas para teres a sabedoria de a saber reconhecer e a humildade de a saber agradecer.
Vivê-la, recebê-la e agradecê-la de peito aberto, indefeso e ainda assim calmo e feliz.
Pudessem mais coisas da vida apresentarem-se tão honestas como este momento de pura arte e poderiam considerar-se as mil reservas que tenho sobre tudo como absolutamente desnecessárias.
Infelizmente não são, mas (já o disse várias vezes) são estes momentos que me aquecem a alma e renovam em mim aquele pedacinho de ser que ainda acredita que a vida também pode ser, por uns momentos, só esta harmoniosa sensação de paz.
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