segunda-feira, 2 de abril de 2018

O QUE VEMOS QUANDO LEMOS IV



" Ler é olhar através de: olhar para trás... mas também olhar, de maneira míope, esperançada, para a frente.






Como referi, esta técnica, o uso de epítetos, pode ser o método pelo qual definimos as pessoas (reais) à nossa volta... destacamos uma característica delas; pomos em primeiro plano uma parte delas e então permitimos que essa parte seja o suficiente. (Tenho um amigo, e, quando penso nele, vejo apenas os seus óculos.)




Sem  estas ferramentas, o mundo apresentar-nos-ia constantemente momentos de informação tão abundante e elaborada, que se tornaria incapacitante.




O mundo, tal como o lemos, é feito de fragmentos. Pontos descontínuos: discretos e dispersos.´

O mesmo se passa connosco. E com os nossos colegas de trabalho; os nossos cônjugues, pais, filhos, amigos...)

Conhecemo-nos a nós próprios e aos que nos rodeiam através das nossas leituras deles, dos epítetos que lhes atribuímos, das suas metáforas, sinédoques, metonímias. Inclusive aqueles que mais amamos no mundo. Lemos-los nos seus fragmentos e substituições.


Para nós, o mundo é um trabalho em desenvolvimento. E o que compreendemos dele, compreendemo-lo através da reunião destas peças: sintetizamo-las ao longo do tempo.

A síntese é o que conhecemos. (É tudo o que conhecemos.)

E durante todo este tempo, comprometemo-nos com acreditar na totalidade: a ficção de ver.*



*A própria visão, a visão binocular, é uma ficção (uma síntese) em que combinamos duas visões ópticas distintas do mundo (enquanto subtraímos os nossos narizes)."



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