quinta-feira, 9 de maio de 2019

O Professor e o Louco (2019)


Maravilhoso. Elegante. Inteligente. Poderoso.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

da alma.


Se o dia se faz de luz e escuridão,
se o ano se faz de outonos e primaveras,
se a vida se faz de inícios e finais,
de que se revestiriam as nossas relações?
Necessariamente de momentos contraditórios e sentimentos antagónicos, contínuos e involuntários.
Passarão todas elas pelos momentos de receio, de filtro, de reconstrução de nós próprios naquilo que achamos que o outro procura? Descobriremos em todas elas outras versões de cada indivíduo que se constroem na convivência do momento atual, necessariamente diferente da construída em outros momentos anteriores?

Há quem diga que uma relação se resolve na seguinte. Será assim?
Também há quem defenda que os fantasmas do passado nos condicionam no futuro. Poderá ser antes assim?
Ou poderão ambas ser verdade e nenhuma delas necessariamente verdadeira?

O certo é que o amor se desenvolve numa espécie de balão de esperança, alheio aos condicionalismos do presente e aos projetos do futuro. Existe uma energia diferente que nos estimula a acreditar sem provas, a sentir sem racionalizar, a confiar sem pedir confirmação. E é dentro desse balão que cometemos a imprudência de nos mostrares como somos, de nos deixarmos ler para além do que nós próprios abarcamos ou podemos compreender. Existe uma almofada de conforto que nos diz que tudo vai sempre correr bem.

E depois chegam os padrões de comportamento, as necessidades, a rotina, a sociedade...
- As relações também são feitas dessas dúvidas, dessas mágoas, desses recuos e avanços. - dizem
- Não há relações perfeitas. É saber reconstruí-las quando tudo parece perdido que vai permitindo viver mais um dia e é na soma desses dias que se concretizam as relações que aos olhos dos outros são perfeitas. - ouço dizer.
Talvez. O certo é que por mais discreto que seja, o dia a dia vai picando o balão com grãos imperceptíveis como os que se misturam na areia da praia. Mais tarde ou mais cedo, o balão vai ficando gasto,  rasgará e pode rebentar.
Fora do balão não é possível respirar o mesmo ar impregnado de esperança e ingenuidade.
Fora do balão interferem as pessoas, o tempo, os pensamentos, as mágoas, as convicções, os projetos.
Sem aviso, passamos a resguardar a nossa alma por precaução e damos por nós a dar passos pequeninos de afastamento e a racionalizar o que antes não chegámos sequer a ponderar.

- Talvez seja preciso largar o casulo da paixão para se libertar e ser ainda mais belo como na lagarta que se transforma em borboleta.- dizem uns.
- Sim. Talvez o verdadeiro amor se revele nessa prova.- respondem outros.
Ou talvez não. Talvez o verdadeiro amor não exista ou seja apenas uma ilusão que, como o próprio nome indica, tem os dias contados.
Ou talvez não se assemelhe nada a uma lagarta e só tenhamos muita dificuldade em reconhecer o momento certo para admitir que chegou ao fim e que é hora de deixar ir.
Certo que não será nunca plausível, ao prever o futuro, imaginarmo-nos apenas um estranho na vida de quem, um dia, nos fez deixar a nossa alma planar nesse balão.

imagem no Pinterest - Clalh Salvatore

segunda-feira, 29 de abril de 2019


Divertida e desafiadora ;)


sábado, 27 de abril de 2019

do amor.






OUVI DIZER - Ornatos Violeta

quinta-feira, 25 de abril de 2019

"... sem sequer pararem para pensar que elas, afinal de contas, também são pessoas." Harper Lee (1960)


"- O que... ah, sim, porque é que eu finjo? Bem é muito simples - disse ele. - Há pessoas que... pronto, que não gostam da maneira como eu vivo. Eu podia mandá-las para o diabo que as carregue, porque não me importava mesmo nada que gostem ou não. Reparem, eu digo que não me importo mesmo nada que gostem ou não, certo... mas não digo "vão prò diabo que vos carregue", estão a ver?
- Não senhor. - respondemos juntos.
- Eu tento dar-lhes um motivo, percebem? As pessoas percebem melhor as coisas se tiverem um motivo, certo? Quando venho à cidade, o que é raro, se cambalear um bocado e beber deste saco, as pessoas podem dizer que o Dolphus Raymond já está metido nos copos... e é por isso que ele não muda. O pobre coitado nada pode fazer e é por isso que vive como vive.
- Mais isso não é honesto, Mr. Raymond. Fazer-se passar por uma pessoa pior do que na realidade é...
- Não é nada honesto, eu sei, mas dá uma grande ajuda às pessoas, Miss Finch, na realidade, eu nem bebo muito, mas percebe que elas nunca, mas mesmo nunca, iriam compreender que eu vivo assim porque quero.
Tinha um pressentimento de que não devia estar ali a ouvir aquele pecador, que tinha imensos filhos mestiços e que não queria saber dos outros, mas a verdade é que ele era fascinante. Nunca tinha conhecido um indivíduo que se defraudava deliberadamente a si próprio. Mas porque é que ele nos tinha contado aquele segredo tão importante? Perguntei-lhe porquê.
- Porque vocês são crianças e podem perceber isso - respondera - e porque estava a ouvir este...
Voltou a cabeça para o Dill - A vida ainda não lhe refreou os instintos. Deixem-no crescer mais um bocadinho e vão ver que ele já não se sente mal, nem vai chorar mais. Talvez sinta que as coisas são... que as coisas não estão lá muito certas, mas nunca irá chorar quando tiver mais uns anos em cima.
- Chorar porquê, Mr. Raymond? - a masculinidade do Dill começava agora a revelar-se.
- Chorar pelo inferno absoluto por que umas pessoas fazem passar as outras... sem dó nem piedade. Chorar pelo inferno por que os brancos fazem passar as pessoas de cor, sem sequer pararem para pensar que elas, afinal de contas, também são pessoas." Harper Lee - Mataram a Cotovia (1960)

imagem no Pinterest de foursquare.com

terça-feira, 23 de abril de 2019

To be.




A história inspiradora de uma mulher, de uma artista, de uma pessoa que se vai descobrindo e completando e que luta pelo direito de ser aquilo que é.

domingo, 21 de abril de 2019

Deixa-te corromper!

Uma das vantagens de viver numa capital que se tornou falada um pouco por todo o lado é a facilidade em contrariar aquela "pequenez" a que se remeteram os que há uns anos se viam num país pequenino e pobre. Agora podemos sempre descobrir em cada rua, esquina ou lugar um pouco mais do que mostramos ao mundo ou embeber-nos naquilo que o mundo impregnou na nossa cultura.

Esta coisa que se mistura sem se saber bem se se importou ou se se pretende exportar. Esta nova forma de vida e de estar em que os julgamentos, tal como os protocolos e as roupas, são mais leves, descontraídas e confortáveis. Uma nova, espontânea e significativa forma de te fazer sentir parte de um mundo maior do que tu, mesmo que esse mundo se materialize na cave do prédio onde tens o teu apartamento.

Eu adoro a calma da vila que me acolhe diariamente, mas fascina-me esta mistura despretensiosa e fácil e este corropio de gentes que podemos deixar imprimir-se na nossa mente numas poucas horas de observação.

O The George Pub (com música ao vivo) tem esta aura de aceitação que tanta falta faz ao mundo e por umas horas podes mesmo esquecer quanto cruéis é invejosos conseguimos ser uns para os outros. É possível neste agradável espaço renovar em ti a certeza de que existe mais para nos juntar do que para nos separar.


imagem no thefork.pt

sexta-feira, 19 de abril de 2019

"Já vi/ há dias em que tu/ não cabes em ti" - Ala dos Namorados


Fotografia de Marta Filipa Costa


"Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas
(...)
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus
(...)
A noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p'ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro"

Ala dos Namorados
Há dias em que mais vale



quarta-feira, 17 de abril de 2019

Morte


"Conscientes da morte, saibamos endireitar as relações com os outros. Pôr cobro a uma inimizade, desculparmo-nos por uma injustiça cometida, saber reconhecer aquilo que por tacanhez não estávamos dispostos a reconhecer. Não levar tão a peito coisas que nos perturbaram demasiado: as pequenas quezílias dos outros, a sua presunção, a displicência com que se julga uma pessoa. O momento como desafio para que sintamos de uma maneira diferente.
O perigo: as relações já não são verdadeiras nem intensas porque lhes falta a seriedade momentânea que pressupõe uma certa falta de distância. E também: em relação a muitas das vivências que fazemos, torna-se decisivo que elas não estejam relacionadas com a consciência da finitude, mas antes com a sensação de que o futuro ainda será longo. A consciência da efemeridade e da morte eminente faria com que essas vivências fossem logo sufocadas à nascença" - Pascal Mercier em "Comboio Nocturno para Lisboa"

imagem no Pinterest em causosdenoiva.com,br

quarta-feira, 20 de março de 2019

Confesso-me apaixonada...


"Afinal, perguntei-me enquanto desviava o olhar, como se não tivesse dificuldade em ver o que estava no interior da montra, o que é que nós sabemos uns dos outros? (...) e não havia dúvida que era verdade aquilo que todos diziam, mesmo as pessoas que gostam de mim: que eu parecia um sujeito arrogante, alguém que despreza tudo quanto é humano, um misantropo que para tudo e todos tem sempre disponível um comentário cheio de escárnio. Foi essa, certamente, a impressão com que o fumador ficou de mim.
E, no entanto, como ele se enganava! Quantas vezes dou comigo a pensar: se ando sempre assim, tão exageradamente direito, não será para protestar contra o corpo inexoravelmente dobrado do meu pai (...) Quando me endireito é como se, ao fazê-lo, pudesse também endireitar, para lá do túmulo, as costas do meu orgulhoso pai, ou como se, por intermédio de uma qualquer lei mágica de efeito retrógrado, conseguisse tornar a vida menos curvada e minada pela dor. (...)
(...) Depois de uma noite sem fim, passada sem sono nem consolo, eu teria sido o último a olhar com arrogância para os outros. No dia anterior anunciara a um doente, na presença da sua mulher, que já não lhe restava muito tempo de vida. Tens que fazê-lo, insistira comigo próprio, antes de lhes pedir para entrarem no consultório, eles têm o direito de planearem o seu futuro e os dos cinco filhos. E depois, não esquecer: uma parte da dignidade humana consiste na força que é necessária para olhar o próprio destino de olhos nos olhos, por mais difícil que isso seja.
(...)
O olhar do homem do cigarro (...) Aquilo que via em mim não lhe podia revelar nada sobre um poço de dúvidas e fragilidades que tão-pouco coincidia com aquela minha aparência orgulhosa e mesmo arrogante. (...) extraí-lhe a imagem de mim que ele em si criara. Aquilo que eu parecia e mostrava ser, pensei, nunca o havia sido, nem um único minuto da minha vida. Nem na escola, nem na universidade, nem no consultório. Será que acontece o mesmo com os outros? Será que ninguém se reconhece no seu exterior? Que a imagem de si próprios lhes surge como um cenário de deformações grosseiras? Que todos se apercebem com horror do abismo que invariavelmente se abre entre a percepção que os outros têm deles e o modo como se vêem a si próprios? Que as duas intimidades, a interior e a exterior, se podem afastar de tal maneira que acaba por tornar-se quase impossível considerá-las como intimidade com o mesmo ser?
A distância para com os outros, para a qual nos transporta esta consciência, torna-se ainda maior quando realizamos que a nossa imagem exterior não surge aos outros como aos nossos próprios olhos.Não se vêem pessoas como se vêem casas, árvores ou estrelas. Vemo-las na expectativa de as podermos encontrar de uma certa maneira, tornando-as assim num pedaço da nossa própria interioridade. A fantasia compõe-nos uma imagem À nossa medida, para que os outros possam  corresponder aos nossos desejos e esperança, mas também de modo a que neles se confirmem os nossos próprios receios e preconceitos. Na verdade, nem sequer conseguimos alcançar, de uma forma segura e imparcial, os contornos exteriores de uma outra pessoa. A meio caminho, o nosso olhar é desviado e turvado por todos os desejos e fantasmas que fazem de nós a pessoa especial e insubstituível que somos.
Mesmo o exterior de um interior continua a ser um pedaço do nosso mundo interior, para já não falarmos dos pensamentos que produzimos sobre um outro mundo interior que, no fundo, são tão inseguros e imprecisos que acabam por revelar mais sobre nós próprios do que sobre o outro. (...) E como é que essa imagem se insere na estrutura secreta das suas simpatias e antipatias e na restante arquitetura da sua alma? O que é que na minha aparência é exagerado e ampliado pelo seu olhar e o que é que ele delicadamente exclui, como se não existisse? Inevitavelmente, será sempre uma imagem distorcida, aquela que o estranho fumador constituirá da minha imagem, e a sua noção daquilo que penso que acumulará distorções sobre distorções. E assim acabamos por ser duplamente estranhos, pois entre nós não se encontra apenas o enganador mundo exterior, como também a imagem enganadora que dele surge a cada interioridade.
Mas serão esta estranheza e esta distância mesmo um mal? E um pintor teria inevitavelmente que nos representar de braços abertos, desesperados na vã tentativa de alcançar o outro? Ou será que os eu quadro, nos devia mostrar, pelo contrário, numa posição reveladora do alívio que sentimos pela consciência dessa dupla barreira que é também sempre um muro protector? Devíamos estar gratos pela protecção que a perplexidade nos concede? E pela liberdade que ela torna possível? Como seria se nos deparássemos um com o outro completamente desprotegidos, através da dupla clivagem que o corpo interpretado representa? Se nos precipitássemos um para dentro do outro, sem que nada de divisório e ilusório se interpusesse?" Pascal Mercier, Comboio Nocturno para Lisboa

segunda-feira, 18 de março de 2019

Sweet Dreams




" And all my pals will tell me that I'm crazy
You bet I'm loopy alright!
And I just don't recognize this fool that you
Have made me,
I haven't seen him for a while"


sábado, 16 de março de 2019

Vamos jantar fora? - Boa Bao Lx


Restaurante Asiático -Tailandês que pretende recriar, sem adptações ao gosto europeu, os pratos típicos da gastronomia tradicional asiática.

Muito descontraído e com uma decoração simples mas cuidada, a apresentação dos pratos é especial e os sabores inesquecíveis.

A repetir.

quinta-feira, 14 de março de 2019

SNU (2019)

Género: Drama
Título Original: Snu
Realizador: Patrícia Sequeira
Actores: Inês Castel-Branco, Pedro Almendra, Nádia Santos

Sinopse:
Snu é dinamarquesa e a fundadora da editora D. Quixote, publicando livros que desafiam a censura do Estado Novo. Francisco é um dos mais carismáticos políticos portugueses. Ambos são casados. Ele tem cinco filhos e ela tem três. Snu Abecassis conhece Francisco Sá-Carneiro no dia 6 de Janeiro de 1976. Apaixonam-se irremediavelmente e decidem assumir esse amor num Portugal em plena reconstrução das cinzas do fascismo, abalando as convenções nacionais. Partilham valores e ambição, lutam juntos pela democracia e pela liberdade, deixando a sua marca na política e na sociedade. Morrem tragicamente em 1980, protagonizando uma das grandes histórias de amor do século XX.

Um filme elegante e muito discreto que levamos para casa na cabeça, juntamente com a magnífica banda sonora. 

terça-feira, 12 de março de 2019

A Felicidade.


"O cérebro de... era uma massa inerte quente e mole. Encostou a cabeça às costas de ... e adormeceu. Quando acordou o velho estava a comer talhadas de melão que pusera a refrescar num balde de água fresca. A seu lado,... também comia com a mão cheia de tremuras.
- É bom - disse o velho.
- Mas verde - disse...
- Mas é bom - replicou o velho.
- Mas é verde - insistiu...
O guarda fitou-o, tentando averiguar se queria bulha.  Percebeu que não. Nem lhe respondeu. Mastigava calmamente e pensava: "Por mais que este idiota diga, o melão saiu-me bom." Sorriu e pensou que, fosse como fosse não brigaria: era o cliente e o cliente tem sempre razão. Precisava das pesetas de ..., porque era velho e tinha medo. E sabia que naquela altura, na cidade de Barcelona, ser velho era das piores coisas que se podia ser."

Frases e vocabulário simples e acessível que nos enredam num dia a dia escuro, frio, desigual e misterioso onde as personagens vão aparecendo sem serem anunciadas. Mais um autor que retrata o dia a dia sem pretensão de mostrá-lo mais do que simplesmente é: especial.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

pequena dor.


Descobri há pouco tempo esta música de um dos meus cantores preferidos.
Adoro as letras da maioria das suas canções e esta não é excepção.
Querem perceber? Ouçam com atenção.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Moça e algumas coincidências 🙂


Acontece muito deixar que outro tipo de inteligência escolha a música que o meu tipo de sensibilidade gosta de ouvir. Isso é bom, não é? Acho até que se pode considerar como uma medida para atenuar esta minha mania de controlar tudo.
Ou então uma forma de me animar com o futuro sendo que ele vai ser cada vez mais assim e não necessariamente deixaremos de ter a capacidade para nos emocionar.
Eu gosto disso e divirto-me muito. É VOCÊS?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Do bem e das boas pessoas



" Miss Maudie afirmou:
- Os lava-pés acreditam que tudo o que dá prazer é pecado. Sabias que um desses sábados houve alguns que saíram da mata e vieram aqui dizer-me que eu e as minhas flores íamos para o Inferno?
- As suas flores também?
- Sim, senhora. E que vão arder juntamente comigo. Achavam que eu passava demasiado tempo a desfrutar da Natureza que Deus nos deu e não dentro de casa a ler a Bíblia.
A minha confiança nos sermões do púlpito diminuiu com a visão de Miss Maudie a arder para sempre nos vários infernos protestantes. Era verdade que ela tinha uma língua afiada e não andava propriamente pelo bairro a fazer boas acções, como fazia Miss Stephanie Crawford. Mas enquanto ninguém que tivesse um pouco de tino confiava em Miss Stephanie, eu e o Jem  tínhamos uma confiança quase inabalável em Miss Maudie. Nunca tinha feito queixa de nós, nunca nos tinha perseguido e não estava minimamente interessada na nossa vida privada. Era nossa amiga. Por isso compreendíamos como é que uma criatura tão atinada podia viver com o perigo do eterno tormento.
- Mas isso não está certo, Miss Maudie. A senhora é a melhor pessoa que conheço.
Miss Maudie sorriu.
- Obrigada, minha cara amiga. O problema é que os lava-pés pensam que as mulheres por si só já são um pecado. sabes, eles levam a Bíblia à letra.
- É por isso qu'o Mr. Arthur fica em casa, para se manter afastado das mulheres?
- Não faço a mínima ideia.
- Para mim não faz sentido. O que me parece é que, se o Mr. Arthur quisesse ir para o Céu, podia ao menos vir à varanda. O Atticus diz que Deus quer que a gente ame as pessoas tanto quanto nos amamos a nós próprios...
Miss Maudie parou de se baloiçar e o seu tom de voz endureceu. - És muito nova para perceber - disse ela - mas por vezes a Bíblia na mão de um homem é pior do que uma garrafa de whiskey nas mãos do... olham do teu pai!
Eu fiquei em estado de choque. - O Atticus não bebe whiskey - disse. - Nunca bebeu nem uma gota em toda a sua vida... desculpe, bebeu. Disse que uma vez bebeu um bocado e não gostou.
Miss Maudie riu-se. - Não estava a falar do teu pai - retorquiu. - O que queria dizer era que, se o Atticus Finch bebesse até cair, se calhar não seria tão severo como alguns homens são naturalmente. Só que há alguns tipos de homem que... que estão tão ocupados preocupando-se com o próximo mundo, que nunca aprendem a viver neste, e podes bem olhar para esta rua que vês os resultados.
(...)
- Se não era, agora deve estar. Nós nunca sabemos aquilo que acontece às pessoas. O que se passa dentro das portas e janelas fechadas, os segredos...
- O Atticus nunca fez nada a mim e ao Jem dentro de casa que não fizesse no pátio. - anunciei, sentindo que era meu dever defender o meu pai." - Harper Lee - Mataram a Cotovia


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