quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Amor

Martin Neuhof 




Lá no fundo existe sempre em nós a esperança, inconfessável ou nem tanto, de que um dia iremos perceber um propósito, algo bom, entre a tristeza e a dor que sentimos num determinado momento.

Talvez porque nos ensinaram assim, talvez por ser uma ideia por demais repetida nos ideais de auto-ajuda ou simplesmente porque nos ajuda a suportar uma situação dolorosa na qual não nos imaginámos estar. O que é certo é que, num ou noutro momento, com mais ou menos fé, todos preferimos acreditar que tudo o que estamos a passar faz parte de um projeto distorcido e sórdido que nos ajudará a alcançar a felicidade.

Há uns tempos, dei por mim a sorrir. Sorria ao descobrir que, ao contrário da maioria das pessoas com quem me vou cruzando, sei que o amor se pode revestir de mais do que acertos, acomodações, gostares suaves e pacíficos.
Talvez o amor possa ser também só isso, não sei. Mas sei que o amor pode ser mais.

Sei que o amor pode ser tudo, que pode ser um pote de contradições atirado a um mar em revolta sob um céu em tempestade e que, ainda assim, nos surpreende com uma plenitude de alma e uma boa vontade para com a vida que nenhum outro sentimento (pelo menos por mim conhecido) pode dar.

Só dias depois me apercebi que isto foi o que de bom sobrou: a lembrança nítida da sensação de absoluta felicidade,uma sensação que quase se tornava palpável à pele do meu corpo, tal era a forma como preenchia o espaço, o ar, o tempo e a energia de cada momento.


Não importa, na lembrança simpática que tenho desta sensação, se foi tudo ilusão ou mentira. Não importa nada do que se passou para além do que senti, pensei ou sonhei em mim, dentro de mim, para mim.

Finalmente sei dizer que nunca importou. Sei dizê-lo sentindo-o como a única verdade que vivi. Sei dizê-lo como se de um prémio se tratasse.

A ilusão vivi-a eu. A dificuldade em aceitar a realidade veio mais da tristeza que senti em perder o fabuloso sonho que tinha construído e da plenitude da entrega de mim mesma à situação, do que propriamente de algo que se referisse especificamente a alguém .

Daí, ao contrário do que alguns pensam, não espero encontrar a repetição de uma pessoa, de um modo de estar ou de uma história. Não espero nada. 
Sei que o que vale realmente a pena, chega, assim inesperada e incompreensivelmente e que nada podemos, nem devemos fazer para o apressar.
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