quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Suspiro...


Queria muito pôr uma foto dos verdadeiros suspiros que comi, mas não consegui fazer a transferência da foto para o meu computador (sim, é verdade, eu e as tecnologias não desenvolvemos uma com a outra uma relação de empatia)...

Mas isso não interessa nada... Todas as pessoas sabem o que é um suspiro. Vende-se ali na esquina. Quase  todas as pastelarias vendem aqueles doces enormes, de cor branca, rosada ou acastanhada. Há agora uma quantidade maior de variedades.

Desde miúda que é um dos meus doces preferidos. Lembro-me nitidamente da imagem de um prato de suspiros ao nível dos meus olhos ( em cima da mesa da sala da minha avó). Lembro-me de ter que erguer o braço para poder tirar um suspiro envolvido naquelas formas de papel ( que hoje em dia se vendem com uns padrões mais coloridos e divertidos do que tenho memória de serem os da altura).

Adorava. Aquela parte húmida no interior e a casca fininha que derretia na boca. 

Mas há mais de vinte anos deixou de existir a avó e desde então já provei vários, mas nenhum me soube a nada parecido. Certo também que os tempos mudaram e que já não é tão usual apresentar suspiros em todas as festas. Agora as hipóteses de variar são mais e a consciência da bomba calórica que aquilo é também.

Ainda assim a idade e a distância da família agravaram este meu saudosismo por coisas que comia na infância e que se envolvem mais da memória da felicidade sentida do que da quantidade de açucar que contém. 

Por isso as pessoas mais chegadas sabem como me presentear com estes miminhos e por diversas vezes o meu pai ou a minha mãe me compraram suspiros que... infelizmente... não cumpriam a sua função.

Mas um dia destes, numa festa de família voltei a recordar os suspiros da avó, aqueles que se derretiam na boca e na última visita que fiz a casa de um prima ela surpreendeu-me com um pratinho de suspiros.

O carinho já contava como fantástico, mas assim que olhei para o prato vi logo que eram daqueles, daqueles iguais aos da minha avó.

Tentei não comer o prato todo, mas ainda assim trouxe uma caixinha para me animar neste regresso ao trabalho...

É isto a família: a confiança para partilhar desejos, o carinho para fazer estas enormes surpresas, um não sei o quê que vai passando de geração em geração....

É disto que se fazem as protecções que nos amaciam as quedas que a vida guarda atrás da porta para nos fazer crescer.
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