sábado, 27 de janeiro de 2018

Disfarces



Eu ouvi a tua voz melodiosa por trás do meu ouvido.
Pertinho assim, rente à pele arrepiada do meu pescoço.

Eu senti o calor da tua respiração e o toque levezinho dos teus lábios no meu ombro, enquanto deslizava essa desvalorizada palavra rouca pela pele das minhas costas descobertas.

Eu vi as ondas do mar que se manifestavam ali tão perto, a cor do pôr do sol que se aproximava tão belo e, de forma igualmente desprendida, o sorriso que acompanhava o brilho do teu olhar.

Reconheci-o, marcado pela tristeza 
que em mim não podias afogar, 
apesar do carinho expresso nos sorrisos que te ofereço.

Eu pensei que a vida está sempre ao contrário.
Que no mundo está tudo errado.
Que o que queremos não é nunca aquilo que nos querem oferecer.

Sobre a tua solidão e muito acima dos meus pensamentos continuavam, indiferentes e livres, os voos das gaivotas e os grãos de areia que, pela vontade do vento, se libertaram da multidão do areal.

E eu fui, logo a seguir ao sol, percorrendo o mesmo caminho que me trouxera, sabendo que quem nos olha,  vê somente nosso exterior e dificilmente consegue aperceber-se do nosso sentir.

Deliciosos os disfarces das cores e dos perfumes que até eu optei por construir...

T. (07/2006)
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