domingo, 17 de março de 2013

Uma espécie de Liberdade...

 

Que Liberdade? 
Tem sido uma pergunta recorrente em pensamentos e conversas nos dias que correm. 

Ora porque vivemos numa crise ou qualquer coisa que o valha, angustiante e medonha que nos deixa sem liberdade de escolha, de expressão, de crescimento.
Ora porque vivemos recentemente mais um 8 de Março que levanta ainda muitas questões sobre a verdadeira liberdade de cada um.
Ora porque se aproxima um 25 de Abril que se prevê demasiado polémico.
Ora porque, numa inesperado piscar de olhos, vimos nas nossas pequenas e enturpecedoras televisões um Papa resignar o seu lugar e outro ocupá-lo. Outro de quem todos falam como simples e "terra-a-terra". Terá ele a liberdade necessária para manter a sua simplicidade? Para nos deixar livres para escolher o nosso credo? 

Esperemos que sim, tal como esperamos que a crise não nos arrase a todos, que não faça chorar, dia após dia, os velhinhos que estão sozinhos em camas com pouca roupa e com fome, tal como esperamos que as instituições de solidariedade social com quem se coliga o ministro da Solidariedade e Segurança Social realmente ajudem as mães a pôr comida na mesa e não consumam percentagem alguma do insuficiente incremento dado.

Esperamos. Criaram-nos na ideia da liberdade, da igualdade, das possibilidades. Continuamos todos à procura de sobreviver utilizando os mesmos canais que nos "venderam" como sendo os mais rápidos para vencer neste capitalismo que nos torna a todos livres de produzir rendimento.

Não sei se somos todos assim tão livres de produzir rendimento. Não sei se somos todos assim tão livres de manifestar opinião, de ouvir a verdadeira opinião de todos. Não sei se todos nós conseguimos mesmo optar por escolhas económicas que nos sejam razoáveis e adaptadas à nossa realidade.

Parece-me que, independentemente desta democracia, nos mantemos divididos em classes entre as quais não há assim tantas permutas. Os pobres mais pobres quando estão em crise sofrem mais do que os pobres remediados e estes sofrerão mais do que os da classe média.

Embora o nosso escudo ao sensacionalismo e ao exagero nos acomode e nos convença de que tudo está controlado, não é só nos "censurados" telejornais e reportagens que a vida de muitas pessoas se desmoronou  Vejo isso no dia a dia e vivo num local pequeno, cheio de redes sociais e familiares. Pessoas que perdem os carros, pessoas que vendem móveis de casa, pessoas que trabalham à hora, pessoas que não conseguem organizar-se para ter todos os dias o que comer, como tomar banho, como vestir roupa lavada, que sirva...

Não, eu não tenho soluções melhores do que aquelas que já foram postas em práticas. Acredito que tenhamos que cortar. Sei que nem sempre se consegue dar tudo o que era suposto. Não sei quais seriam as soluções a não ser a tão mediana e ideia comum de que os nossos governantes deixassem de sair impunes dos grandes "roubos" que praticam, mas também acredito que tal não resolvesse todo o problema.

Não sei qual é a solução porque não passo de um professora de 1.º Ciclo, a quem até querem mudar a designação para professora básica. Eu não sou básica, não sou uma professora básica, nem tão pouco sou uma professora do ensino básico, porque tirei um curso específico para crianças de 1.º Ciclo. 
Mas para muitos sou básica e após dez anos de experiência e formações várias, tudo isto sustentado pela hipoteca do meu futuro pessoal e estabilidade económica , não passo de uma jovem professora que se deve dar por feliz por fazer parte dos quadros (mesmo que o quadro seja a 400 km do lugar onde tem a sua vida).

Enfim, não tenho soluções perfeitas, mas também não perco muito tempo a pensar nisso, porque para isso vários ganham dez ou vinte vezes o meu salário. Eu ouço-os e não confio em nenhum deles. Não acredito que nenhum deles tenha a verdadeira intenção de querer ajudar os outros, de pôr-se a si próprio ao serviço dos outros.

Por isso resta-me a esperança. Já que a minha liberdade é apenas uma espécie de liberdade! Tenho dificuldade no acesso à cultura e estou quase impossibilitada de continuar a apostar na minha formação. A minha vida pessoal e familiar espartilha-se entre os poucos dias de férias e a incapacidade económica de fazer e refazer os 400 Km que me separam dos meus familiares e amigos, da minha terra, do meu jeito de ser.

Enfim resta-me a esperança e o optimismo! Aquele que me acalenta no dia-a-dia. Aquele que me faz aproveitar as pequenas coisas, observá-las, admirá-las. 
Acho magnífico que tenha aprendido a beber vinho sozinha, que tente reproduzir os pratos tradicionais de que tenho saudade, que não perca a cabeça quando o carro, a luz, a água ou o gás têm uma avaria e que consiga ter tantos interesses que o tempo que passo sozinha seja pouco para os manter a todos actualizados.

Acharia, no entanto, ainda mais magnífico se pudesse ter a liberdade de escolher! De escolher entre beber o vinho sozinha ou abri-la em casa do meu pai, que mo ofereceu e partilhá-la com ele. De escolher entre tentar sozinha reproduzir os pratos da mãe ou fazê-los para ela.

Resta-me a esperança! De que esta espécie de LlBERDADE não seja para sempre...


Foto in Produtora Fame
Fernando disse...

Viva

Ao ler este texto, comecei por ficar preocupado muito preocupado, sabes que me preocupo.
A profundidade com que abordas-te certos temas num blog assutou-me.

Mas depois comecei a ver que deste no vinho e então descansei. Fiquei muito mais à vontade... Agora mais a serio gostei muito do texto, era como se colocasses no "papel" muitas das ideias que se fosse eu a explicita-las não as conseguiria articular num texto assim tão bem redigido. Sim realmente de básica não tens nada. Bj Fernando

Teresa Margarida Costa disse...

Fernando:
olá :) Ainda estás vivo?
Ainda bem que apreciaste o texto e não precisas de te preocupar que em Portugal ninguém se preocupa com o que se escreve ou diz por aí.
Na verdade não é o meu tipo de texto, nunca liguei nenhum a estes intervencionismos e nem sequer pensei em escrevê-lo. Dei o título, inseri a imagem. Escrevi o primeiro parágrafo e depois... não sei... saiu-me o desabafo. Deve ter sido do vinho ;) Bj T.

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