domingo, 20 de maio de 2012

A Pele Que Há Em Mim...



A vida escorre por mim devagar.
Os dias, aos quais, calmamente, se seguem as noites.
As noites que cada vez parecem maiores.
As voltas na cama, as insónias, os pesadelos.
Por mais agitada que a vida profissional seja, há sempre uma hora no dia em que se torna muito difícil não pensar em nós, no que esperámos, no que sonhámos.
Por menos que se dê passagem ao pesadelo, por mais que esteja entranhado em nós que um dia (talvez) seja diferente, as pequenas desilusões mantêm o espírito inquieto.
Sei que não existe um caminho mais fácil para viver com a consciência tranquila, sem enganar ninguém, sei que não existem soluções simples para o ser complexo que descobri em mim.
Descobri com o tempo que o tempo não faz mais do que correr e que tudo o resto que lhe atribuímos é fruto do nosso esforço, da nossa inconstância, do nosso mudar.
Descubro-me diferente de outros tempos, descubro no passado histórias que temo voltarem a repetir-se.
Novamente sinto-me a mudar.
Quebrei com custo as pedras da gruta onde me prenderam por anos ou onde me deixei esconder.
Continuo sem certexas das razões, dos motivos, das justificações.
Isso também não me interessa, sempre quis seguir em frente.
Em muitas das pedras me magoei de novo, rasguei a pele das cicatrizes mal curadas e descobri infecções que não sabia existir.
Em tudo o que vivi recolhi algo.
Percebo que o mundo que conheci não era o mundo que tinha construído em mim.
Infelizmente o mundo que descobri desiludiu-me.
E depois de tanto esforço para abrir frechas para o sol, volto a proteger-me.
Já não quero estar exposta ao calor abrasador do sol, ao encanto irresistível de uma sombra verde ou ao apelo excitante da imensidão do mar.
Dou por mim a fechar de novo as janelas demasiado rasgadas que abri para o mundo.
Já não quero participar.
Quero ver de dentro para fora.
Quero ver o efeito das rajadas de vento protegida no meu calor.
Quero observar as tempestades de areia protegida sob o meu tecto. 
Deixei de lado o espírito aventureiro e a vontade de arriscar.
Descobri o que queria e vivi tudo o que no momento conseguiria suportar, mas mais perdida me encontro no meio destes seres em quem não posso confiar.
Párp e já não sinto nenhum carinho especial por nenhum dos caminhos a seguir.
Cansei-me de caminhar sozinha, de observar sozinha a beleza das flores ou a delicadeza das águas paradas de um pântano.
Não encontrei nos meus trilhos quem me soubesse acompanhar.
Quero voltar ao lugar seguro do qual me libertei.
Já não quero deixar-me levar pelas hipóteses.
Fico.
Assim.
Tentando desenhar vasos de cerâmica colorida onde colocarei quando assim o achar algodão doce de onde possam florescer ramos de estrelas recheadas de sonhos que sinto ter o direito de viver.
Um dia.
Outro dia.
Depois.

T.
14/07/2006

 Esta é a pele que sempre há-de existir em mim, quer percorra a parte superior do ciclo ou a inferior. Marcas invisíveis que espero conseguir reconhecer sempre. Que nada se perca, que nada deixe de ter importância. Que tudo o que se repete, me traga sempre pedaços de pele que saiba reconhecer como meus e só meus.
Fernando disse...

Esta bateu, muito bom Teresa, muito bom mesmo.
Obrigado

Teresa Margarida Costa disse...

;)

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