Nada me preparou para estar aqui com meio século volvido desde que apareceu em mim esta fragilidade de contar com os outros como iguais, como parceiros, como dadores.
Pessoas com capacidade e vontade de amar, de fazer sorrir, de estender a mão, de caminhar lado a lado.Nada me preparou para o momento ( não sei bem quando aconteceu) em que aceitei que o segundo dia da vida é este: isolamento, independência, uso, abuso, desprendimento.
Não posso dizer que tenha aguentado com clareza a força do choque de abrir os olhos, mas fui-me apercebendo de que as experiências nos trazem uma astúcia difícil de transmitir ou admitir.
Tentei de todas as formas que me ensinaram, de todas as outras que julguei originalmente ter construído para mim.
Tentei com o tipo A, B, C e todas as outras letras do alfabeto que tive tempo, oportunidade e paciência para viver.
Com mais ou menos brilho, mais ou menos suspiros, mais ou menos ilusões e desilusões, o resultado foi sempre o mesmo.
FIM.
ESVAZIAMENTO.
DOR.
ALINHAVOS.
COSTURAS.
RECONSTRUÇÃO.
A noção da finitude da vida pende sobre mim mais do que em outras fases.
Terei ou quererei eu gastar o tempo que me resta num processo de repetido e tão mais cansativo do que prazeroso?
Aprendi a dizer NÃO.
Aprendi a dizer mais vezes SIM.
SIM.
SIM.
SIM.
Sim, às horas que passaremos juntos sem que te ofereça nada de mim.
Sim, ao usufruir da tua dedicação sem que perca um segundo a pensar em ti.
Sim, à luxúria, à evasão.
Sim, a ter as piores intenções sem perder tempo com ilusões
Sim, à certeza de que, melhor do que ir para o céu, é experimentar do melhor do mundo...
...
Já aqui.;)
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