segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sobre as mil e uma vidas que vivo dentro da minha cabeça, sem conseguir expressar ou partilhar





É recorrente em mim a sensação de só conseguir expressar cerca de um décimo dos pensamentos que me ocorrem a todo o momento.
Tanto do que sinto, penso ou vivo, fica somente dentro de mim.
Tantas vezes gostava de conseguir produzir concretizações com a mesma rapidez com que a vida provoca ideias no meu cérebro.
Mais mil vidas que a minha vivo aqui, dentro da minha cabeça!


" das mil experiências que fazemos apenas conseguimos transpor uma para a linguagem e, mesmo essa de forma fortuita e sem o apuro que merecia. Entre todas as experiências mudas, permanecem invariavelmente ocultas aquelas que, imperceptivelmente, transmitem à nossa vida a sua forma, o seu colorido e a sua melodia. quando depois nos viramos para esses tesouros. Como uma espécie de arqueólogo da alma, descobrimos quão desconcertantes eles são. O objecto da observação recusa a imobilidade, as palavras deslizam para fora da vivência e no final o que temos no papel não passa de um espólio de contradições.
(...)
Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que em nós existe, então o que acontece ao resto?"
Pascal Mercier - Comboio nocturno para Lisboa  
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