Estranhamente semelhante a um dia de outubro no meu primeiro ano como professora, numa pequeníssima aldeia da qual nunca antes nem depois voltei a ouvir falar.
Mas na qual, apesar de escandalosamente se perceber que sempre tinha vivido na cidade, adorei trabalhar e onde a população mais idosa me fazia sorrir todos os dias quando percorria (a pé) o caminho para a escola.
Todas as vezes, me cumprimentavam com "Bom dia (ou boa tarde), senhora professora." seguido de um quase imperceptível baixar ligeiro da cabeça, em sinal de respeito (apesar dos meus verdinhos vinte e três anos).
Para quem tinha acabado o curso no verão anterior não posso dizer que não me tivesse servido de alento, orgulho e motivação.
" Levantei os olhos e vi que Miss Caroline estava especada no meio da sala, com uma expressão de horror estampada na cara. Ao que parece já estava suficientemente recomposta do choque da manhã para conseguir vingar na sua profissão.
- Está vivo! - gritou.
A população masculina da escola correu em bloco em seu auxílio. Meu Deus, pensei, mas ela está assustada com um rato. O pequeno Chuck Little, cuja paciência com todos os seres vivos era extraordinária, disse: - Pra qu' lado foi, Miss Caroline? Diga-nos pra donde foi, rápido! D. C. - virou- -se para um rapaz atrás dele - D. C. fecha a porta prò apanharmos. Depressa, stôra, pra onde foi?
Miss Caroline pôs-se a apontar com o dedo com o dedo a tremer, não para o chão, nem para a secretária, mas para um indivíduo pesado que eu não conhecia. O Chuck contraiu a cara e disse delicadamente:
- Quer dizer ele, stôra? Si' senhora, ele está vivo. Ele assustou-a, foi?
Miss Caroline disse em desespero:
- Eu ia a passar quando ele rastejou do cabelo dele... rastejou do cabelo dele...
O pequeno Chuck fez um sorriso de orelha a orelha.- Não há razão pra tê medo de um piolho, stôra. Nunca tinha visto um? Não tenha mais medo. Volte prà a sua secretária e ensine-nos aí mais umas coisitas.
O pequeno Chuck Little era outro membro da população que não fazia a mínima ideia de quem é que lhe ia dar a próxima refeição, mas era um cavalheiro nato. Colocou a mão debaixo do cotovelo de Miss Caroline e, apoiando-a, conduziu-a até à frente da sala. - Agora não se aflija mais, stôra - sossegou-a. - Não é preciso ter medo de um piolho. Eu vou-lhe buscar um copito d'água fresquinha.
O portador do piolho não mostrou o mais pequeno interesse pelo tumulto que tinha causado. Começou a procurar acima da sua testa, no couro cabeludo e, tendo localizado o seu hóspede, esmagou-o com o polegar e o indicador.
Miss Caroline assistiu ao processo com um misto de fascínio e horror. O pequeno Chuck trouxe água num copo de papel e ela bebeu-a agradecida. Por fim lá conseguiu falar.
- Como é que te chamas, filho? - perguntou ela delicadamente.
O rapaz pestanejou. - Quem, eu? - Miss Caroline acenou com a cabeça."
Harper Lee , Mataram a Cotovia
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