Talvez nenhuma
das pessoas que passavam pelo jardim lhe prestasse atenção.
Era provável que alguns
nem a olhassem de raspão por estarem tão ocupados com as suas vidas, as suas
pressas, os seus afazeres.
Podia ser que alguns levantassem os olhos do chão ou
virassem ligeiramente o pescoço para a observar melhor. Podia … ou não.
Sentada no banco
de azulejos azuis, alguns já quebrados pela violência do tempo e dos que por lá
passaram, não era corpo que merecesse à partida especial atenção.
No canto mais à
esquerda do banco, era simplesmente mais uma mulher sentada num banco de
jardim, aparentemente à espera de alguém.
A ansiedade denunciada pela
movimentação das suas mãos que entretinha com os anéis. Não tinha livros, nem
sacos, nem se recostava como que a passar tempo ou a descansar.
“Espera alguém.”
- confirmou para si próprio o homem que a olhava do interior da loja de artigos
domésticos do outro lado da rua.
Embora fosse
bonita, não era especialmente vistosa. Tinha um ar elegante e ligeiramente
deslocado, como se o jardim não fosse um dos seus lugares favoritos. Não parecia feliz, nem triste e embora os
óculos escuros não deixassem adivinhar o que pensava ou para onde olhava, o
homem do outro lado da rua achou-a melancólica e só.
Nessa noite,
quando finalmente se sentou a beber o seu copo de vinho, a imagem dela
surgiu-lhe na cabeça, tendo-se seguido uma sensação de inquietação que não
conseguiu disfarçar enquanto constatava que existiam, neste mundo, muito mais
pessoas sós e infelizes do que aquelas que qualquer um de nós é capaz de
aceitar.
T. (2014)
(participação no projeto as-sukar no tema Azulejos)
Para conhecer outras partes da história, ler as publicações na etiqueta Espaços Em Branco (na barra lateral direita)
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