terça-feira, 26 de setembro de 2017

03 2011


Sinto o azulejo frio no ombro nu.
Estou cansada de fingir que sou inteira.
Sinto-me partida e em desespero.
É quando percebo que este desconforto gelado tão paradoxalmente me conforta que compreendo que só a procura de uma dor exterior me pode fazer sentir menos louca, menos errada no mundo.
Preciso de sentir que fora de mim, também algo se contrai e revolta.
Sinto-me desfazer nestes nós que se apertam e nestas células que se incendeiam.
Ainda há minutos atrás estava a falar calmamente com alguém.
Qual de mim mente?
Esta que se entrega a um desespero que a outra consideraria dramático ou a outra que age como se por dentro não estivessem sempre os pontiagudos cacos em que se partiu a rasgá-la?
Não sei qual sou.
Ao contrário do que dizem, chorar não me acalma e antes que cheguem as horas de apatia a olhar o vazio, levanto-me e forço-me a despir.
A água que cai quente sobre o meu corpo não me aconchega. Na minha mente sobrevoam os mesmos fantasmas, as mesmas interrogações, uma e outra vez.
Talvez devesse procurar ajuda. Falar com alguém.
A verdade é que não tenho nada para dizer. Já nem a mim tenho nada de novo para dizer.
Deixo-me cair sobre a cama e esforço-me por não pensar em nada.
Talvez um dia melhore.
Talvez um dia me esqueça de tudo isto.
Da intensidade com que te odeio.
Da raiva que sinto deste acaso que te trouxe e agora não te leva nem quando eu lhe peço com jeitinho.
Inundam-me estas negras sensações, fica o meu corpo concentrado nas pálpebras cerradas.
Apesar de tudo, é nesta escuridão que me é mais fácil acreditar que posso simplesmente desaparecer.


Copyright © T&M
Design by Fearne