sábado, 12 de setembro de 2020

Da Gentileza :)

 


Para mim ser gentil devia ser básico. Fazer sempre parte. Mais ou menos como lavar as mãos. Haja ou não uma pandemia a avassalar o mundo, faz parte.

Para os meus alunos também. É logo das primeiras coisas que falo quando falamos das "regras" da sala de aula. Para mim, a gentileza, a cortesia e a camaradagem são palavras que saíram de moda mas que balizam tão melhor a imensidão da banalizada palavra "respeito", embora ainda hoje e a respeito desta reflexão alguém me tenha explicado que a palavra na sua génese também é bem objetiva.

As pessoas desconhecidas são a minha maior fonte de inspiração. Elas aparecem na minha mente através apreendidas através dos sentidos e inquietam-me tantas vezes. Tantas mais vezes do que aquelas que eu consigo partilhar. Elas apareçam na sua vida como pequenos stop motions que serve de gatilho para reações que me lembram que viver também é isto de ser sociedade e partilhar com os outros.

Ontem ao longo do dia aconteceram muitas muitas situações, mas partilho duas que se relacionam com a simples gentileza:

Numa secretaria escolar, estava na mesa do lado (da parte de quem é atendido), uma menina que devia ter uns 15 anos. Toda bonitinha e engraçadinha e com aquele ar inconfundível  e amoroso do misto entre uma mulher e uma menina. Ela estava a tratar de várias situações e a pessoa que a estava a atender (que teria provavelmente netos da idade dela) explicou-lhe tudo com muita piada e bom humor, apesar das barreiras acrílicas e das máscaras. 

- Mas olha, nesse dia tens que encomendar o equipamento que é obrigatório e que é pago adiantado. - disse a senhora com voz de avó/mãe.

- O quê? Tenho que usar um equipamento daqui?

- Sim. É obrigatório.

- Mas como assim? Um equipamento tem o quê? T-shirt?

- Tem o que quiseres comprar. Calças ou calções, t-shirt, camisola...

- E eu tenho que usar sempre esse equipamento? - espantava-se a miúda, mas de forma sossegada e educada

- Pois - ria-se a senhora (e eu por dentro confesso). Mas o que querias usar, minha querida? Como é que estavas a pensar vir para as aulas? Assim de calças de ganga?

- Não! Mas pensei que pudesse pôr o equipamento para lavar e trazer umas calças ou assim...

- Ah, mas isso é com o professor. Falas com o professor e logo vês. Mas vem preparada aí com uns 10 euros. Depende do que quiseres comprar para fazeres logo a encomenda. - recomendou

- E tem que ser nesse dia? - perguntava a menina aflita

- Tens o dia a seguir, mas no dia a seguir vêm outros alunos à apresentação e depois é mais confuso. Traz nesse dia que é mais fácil.- sugeriu com toda a calma

- Está bem... - e a voz mal saía.

- Pronto, minha querida, é só isso? Podes ir. Tem um bom ano. - despediu-se a senhora sorridente da menina que foi atarantada dali.

O que enterneceu foi a gentileza, a empatia desta funcionária de uma secretaria onde todos corriam de um lado para o outro. A calma com que tratou esta nova aluna, como validou as suas dúvidas e preocupações. Como foi um pouco mãe e avó e irmã e amiga sem deixar de ser a senhora da secretaria. Fiquei emocionada, pois há muito que não assistia a um momento tão bonito neste contexto agreste que às vezes é uma escola. Encheu-me a alma de esperança e só não partilhei com a senhora o bem que me fez nesse dia (e provavelmente àquela menina e àquela família) porque mais uma vez a correria nos ganhou e roubou esse momento e antes de eu ser "despachada" já tinha saído, mas um dia em que tenha oportunidade vou falar-lhe disso...

Foi o que faltou na situação seguinte. Empatia, reconhecimento, amizade, amor..... gentileza.

Um casal aproxima-se da passadeira da via do lado oposto com um carrinho de bebé que a mulher empurrava. O homem começou a passar a passadeira sem esperar para confirmar que eu ia parar ou esperar que a mulher avançasse. Ela não avançou. Só avançou depois de eu parar, apesar de estarem do outro lado da rua. Parecia que iam fazer uma caminhada pelo sítio onde estavam e para onde se dirigiam e pelas roupas que vestiam. A mulher, possivelmente mãe recente, trazia roupa escura de treino e uma sapatilhas aparentemente novas. Aparentavam ser pessoas humildes. A senhora apresentava um ar cansado e pouco animado perante a "caminhada". O homem vestia uma roupa de dia escura, mas não de treino como se se tivesse levantado para fazer aquela caminhada. Eram treze horas de um dia de muito calor (mas vamos passar isso à frente - até podiam ter que fazer uma caminhada para ir ao médico... não vou julgar). A senhora passou mais devagar pois levava o carrinho que ao subir o passeio bateu e demorou mais um bocadinho. Quando passou à minha frente eu sorri-lhe. O homem esperou-a do outro lado, mas não a ajudou com o carrinho. A senhora depois de estar em segurança fez um gesto de agradecimento ao que eu respondi com um sorriso e um aceno de que não fazia mal. Tive pena dela.

 

Tive pena que tivesse (pelo menos naquele momento) ao seu lado uma pessoa tão pouco conectada e gentil. Tive pena que pudesse estar a acontecer o mesmo em tantas outras situações no mundo. Tive pena que ele não tivesse sido meu aluno ou filho dos meus pais ou neto da minha avó.... Fiquei triste pela dureza que impomos uns aos outros. Que coisa esta de nos fecharmos em nós. A vida é curta, mas maravilhosa se nos soubermos ajudar uns aos outros. 

A mensagem é mesmo esta. Sejam gentis. Sejam gentis genuinamente. No nada do dia a dia. No tudo do que os outros nunca vão ver. Sejam intrinsecamente gentis :)

 






imagem retirada do Pinterest - desconheço o autor

sexta-feira, 8 de maio de 2020

A Bibliotecária de Auschwitz - Antonio G. Iturbe

“Tudo aconteceu quando descobriu que, entre os lençóis, roupas e objectos caseiros que a mãe tinha enfiado à pressa nas malas, o pai- sem que a mulher o soubesse, pois um tal desperdício de espaço tê-la-ia feito bradar aos céus - escondera um livro.” pág. 113

"-Não importa quantas escolas os nazis fecham. - respondia-lhes. - Sempre que alguém se detiver numa esquina a contar qualquer coisa e algumas crianças se juntarem à sua volta para ouvir, aí terá sido fundada uma escola."

“-“... não sabe nada sobre mulheres. .... está impressionada, bastaria ler-lhe os olhos para o perceber. Os homens esperam sempre que lhes digam tudo.”

"- É para ti. Uma prenda.
    Ela olha com desconfiança para o objecto amarelo e ele levanta uma pequena tampa. Começa a ouvir-se uma melodia metálica e melíflua.
  - É uma caixa de música. (...)
  (...)
   - Não se come - responde ela.
   A sua voz arranha, mais até do que aquele vento de Fevereiro que é como lixa.
  (...) fica perturbado a perceber a sua estupidez. Passou uma semana a procurar no mercado negro uma caixa-de-música. Andou de um lado para o outro, tratou com camaradas das SS e com traficantes judeus até consegui-la. Subornou, pediu, ameaçou. E só agora se dá conta que é uma prenda inútil. Num lugar onde as pessoas passam fome e frio, a única coisa que lhe ocorre oferecer a uma rapariga é uma estúpida caixa de música.
Não se come..." pág. 212

"... volta a perguntar porque terão os seus superiores tanto interesse naquele absurdo campo familiar, à espera que o médico lhe responda o que já sabe. (...)
     - Sabe bem (...) que este campo é estrategicamente muito importante para Berlim.
     - (...) O que não sei é o porquê de tantas considerações. Agora também vamos arranjar-lhes uma creche? Mas será que estão todos loucos? Pensam que Auschwitz é uma estância de férias?
     - Isso é o que queremos que pensem uns quantos países que estão a observar-nos com muita atenção. Os rumores correm. Quando a Cruz Vermelha Internacional começou a pedir mais informações sobre os nossos campos e pediu para enviar inspectores, (...) foi brilhante, como sempre. Em vez de proibir as visitas encorajou-os a fazerem-nas. Nós mostrar-lhe-emos o que querem ver: famílias judias a conviver, crianças a correr (...)" pág. 240

"Teria gostado de lhe dar um abraço e dizer-lhe que agora sabe, que sempre soube: que não está mal da cabeça. Se nos fecham num manicómio, a pior coisa que nos pode acontecer é estarmos sãos de espírito." - pág. 251

"Sei que é um grande esforço para si,mas ... durante o tempo que dura uma história as crianças deixam de estar neste estábulo cheio de pulgas, deixam de cheirar carne queimada, deixam de ter medo. Durante esses minutos são felizes. Não podemos negar a felicidade às crianças" pág. 295

"Dividiu mentalmente o espaço e calculou que cabem um pouco mais de trinta palavras. Se depois daquele postal o que as espera é a câmara de gás, essas trinta palavras serão as últimas que deixarão escritas. A sua única oportunidade de deixar testemunho de que passou tão fugaz pela vida, talvez no pior momento da História e no lugar menos apropriado. E nem sequer pode dizer o que na verdade sente, porque se a mensagem for lúgubre não a deixarão enviá-la e castigarão a mãe. Irão ler mais de quatro mil postais? Quem sabe, pensa.
Os nazis são asquerosamente metódicos." - pág. 359

"Uma pessoa que nos espera num lugar qualquer é esse fósforo que se acende num campo à noite. Talvez não consiga iluminar toda a escuridão, mas mostra-nos o caminho para voltar a casa." - pág. 414

"Também ela sorri sem saber porquê. É o fio. Esse fio que une as pessoas. Que se converte num novelo."
- pág. 415

"Haverá quem pense que foi um acto de coragem inútil num campo de extermínio, quando há outras preocupações mais preementes: os livros não curam doenças, nem podem ser usados como armas para derrotar um exército de verdugos, não enchem o estômago nem matam a sede. É verdade:a cultura não é necessária para a sobrevivência do homem, basta pão e a água. É verdade que com pão para comer e água para beber o homem sobrevive, mas só com isso morre a humanidade inteira. Se o homem não se emociona com a beleza, se não fecha os olhos e põe em marcha os mecanismos da imaginação, se não é capaz de interrogar-se e vislumbrar os limites da ignorância, é homem ou é mulher, mas não é pessoa; nada o distingue do salmão, de uma zebra ou de um boi-almiscarado."-pág. 424

"Para mim os heróis não são os indivíduos fortalhaços dos filmes, são aqueles que caem e se levantam, os que depois de caírem cem vezes se levantam cento e uma e seguem em frente."- pág. 463

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Untogether


"... o que mais precisamos não são linhas informativas. A Siri consegue pesquisar a vossa alma no Google?" 

"-Tu parece de veludo, mas és velcro. Áspera (...)"

 


     Um filme sobre o quão preciosos, imprevisíveis, complexos e dolorosos são os laços que partilhamos com os outros... 
       Não é um filme romântico, nem de arrebatar os corações.
       É um filme mais ou menos realista sobre situações do dia a dia.




quinta-feira, 23 de abril de 2020

#41 - sensação de família embrulhada em cartão com selo


"Tell your brother you're listening to his dreams
Tell your sister she is all you need
Tell your mother she is the only one
And your father has made you all that you've become
Harrison Storm - Sense of home

Estou em casa há 41 dias.
Muitos dias. Num isolamento muito isolado e individual. Porque a minha saúde assim o exige e porque a minha normal também é um pouco assim.
Às vezes deve-se à distância, outras vezes à falta de tempo e muitas vezes à necessidade que tenho de ter tempo para ser eu, para estar comigo, para me mimar.
Certo é que este isolamento se faz sentir no meu humor, no meu sono, no meu cansaço, na minha capacidade para ser mais do que um cumprir de obrigações que sinto serem muitas, todas ao mesmo tempo e sempre em atraso. Em constante mudança e adaptação e sem rumo certo.
Quem me conhece sabe que venço as novidades com tanto desgaste como sucesso.
No fim são os sorrisos e a sensação boa de ter vencido, mas os inícios enchem-me a cabeça de ideias e formas de fazer, de pesquisas, de antecipações, de conversas sobre o que penso.
Neste caso nada disso parece justificar-se. Perdi-me neste novo mundo. Tenho dificuldade em saber como fazer o meu trabalho, em saber o que espera o país de mim como professora, o que esperam os pais, o que esperam os alunos, o que espero eu...
Têm sido dias muito difíceis e também eu penso muitas vezes em desistir.
Mas também eu já passei por muitos abismos pessoais e sempre me reconstruí.
Começo devagar a partilhar as coisas que me alegram, tanto para me consciencializar como na ideia de que alguém possa começar a olhar a vida com olhos mais meigos.
E é muito o que, ao longo do dia, me vai animando, dando esperança e espicaçando a minha capacidade de ir mais além e fazer diferente. Esperar mais, fazer mais, conseguir mais, ser mais.

Hoje partilho o que foi o momento mais feliz do meu dia. Recebi uma encomenda de casa.
Com cartas de correio, postais pintados pelo pai, máscaras feitas pela mãe, chocolatinhos da Páscoa, aneis que ficaram lá por casa quando o regresso se esperava breve. Tudo arrumadinho com tanto cuidado. Impossível que ao abrir a caixa não recebesse uma enorme lufada de amor. Sorri. Ri. Fiz um vídeo. Agradeci. Emocionei-me. Fui muito mais feliz ontem com este miminho.
Já passaram quase dois meses. Custa.
Felizmente estamos todos bem e isso protege o nosso coração de quebrar, mas as saudades já são muitas. As nossas pessoas ganharam um valor diferente. São as nossas. São as que queríamos abraçar e acalmar. São as que não queremos saber doentes nesta distância física e obrigatória. São as que queremos continuar a ver motivadas e a fingirem-se esquecidas da crise económica que nos afetará fortemente. São as pessoas que nos compreendem de verdade, são as que nos querem sempre bem, são as únicas em que confiamos. São as nossas.

Tradução não literal das palavras acima:

Diz às tuas irmãs que estás sempre disponível
para ouvir e discutir os seus sonhos
Diz aos teus sobrinhos que eles são tudo
o que precisas para sorrires e seres feliz
Diz à tua mãe que ela é única.
Mesmo única!
Diz ao teu pai que a pessoa em que te tornaste
se deve, em muito, a ele.


I do not own the rights of the music. If any producer or label has an issue with this song, please get in contact with me and I will
delete it immediately

domingo, 5 de abril de 2020

Seis sessões












Um filme enigmático, de certa forma cru e em tantos aspetos romântico. Uma abordagem pouco comum à vida das pessoas com deficiência.
Para mentes sem tabus 😉

O Corvo Branco

Uma expressão que se refere a alguém especial, fora do sistema... Um filme sobre regras e liberdade. 
Sobre a arte, sobre a beleza, sobre a alma.
Um filme sobre a igualdade.

A distância entre nós




         Um filme sobre o valor de um simples toque, que acaba por o ser também sobre o valor da vida e da forma como reagimos ao que nos acontece.

sábado, 21 de março de 2020

Ao fim do sétimo dia descansamos... Porque a isso nos ordenaram!!!



Muitos terão sido já os textos, comentários, reflexões e mensagens inspiradoras ou manifestações de receios que se leram ou ouviram nestes tempos.
Eu, habituada que estou, por várias circunstâncias, a trabalhar em casa e a estar a produzir apesar de isolada e pouco controlada por outros, não me sobrou tempo para me dedicar aos meus hobbies ou para me entediar.
Apesar do horário exigente de trabalho, procurei mais informação e abri mais links de notícias do que costumo fazer. Li e reflecti. E também eu passei pelas impressões antagónicas de muitos: ter momentos em que parece que não está a acontecer nada lá fora ou ir à janela e cair-me a ficha com os espaços vazios e silenciosos, ou sair de casa para ir ao lixo e ter a sensação que se está em guerra.
Sim, por muitos outros motivos sinto que estamos em guerra. Eu que vivo confortavelmente e harmoniosamente num pequeno palácio que antes de tudo isto se imaginar construí para meu refúgio, também a mim me assusta o futuro, as medidas e esta impressionante sensação de que estamos num qualquer episódio de Black Mirror, Handmaids Tale, 3% ou Plataforma ou num filme de Mad Max, Sem Tempo ou qualquer um que retrate o início da segunda guerra mundial onde a liberdade é sorrateiramente retirada às pessoas, onde os direitos democráticos vai sendo distorcidos, onde há alguém com todo o poder de decidir a vida dos outros. Mundo em que somos escolhidos ou não escolhidos e onde nos dificultam ter e expressar opinião ou pensamento.
Sendo este um dos meus mais antigos e angustiantes receio como pessoa e como mulher, também eu, no meio das adaptações para ter comida e viver uma vida ocm limitações me aquietei e entristeci.
Refleti sobre a imprevisibilidade e a ironia desta situação, sobre o tempo e o que fazemos com ele, sobre as pessoas, sobre o capitalismo, sobre o avanço tecnológico.
Mas o que muito me tem tocado em Portugal é a nossa união, cumprimento e bondade. Multiplicam-se gestos simpáticos individuais para toda uma comunidade. Abriram-se mais os canais. Democratizaram-se, em certa medida, as circunstâncias e criam-se medidas para tentar proteger  o agudizar dos desequilíbrios sociais. São cadeias enormes que modificam logótipos para nos lembrar das medidas a termos em conta, são instituições culturais que nos abrem as suas portas, são movimentos locais que apoiam o vizinho do lado, são empresas que cedem produtos e outras que inventam.
Uma onda de criatividade e generosidade muito especial que espero que não seja esquecida quando está situação terminar e enfrentarmos todos um novo mundo, também ele cheio de desafios.
Hoje, depois de alguns momentos de ansiedade e tristeza, quando me deslocava para casa vi... primeiro tímido, um pequeno arco-íris. Eu que nem sou de tirar fotografias demorei uns minutos, mas depois disse "que se lixe. Vou ter que partilhar".
Foi enquanto pensei em partilhar para todos que do céu nos veio esta mensagem  de que vamos ficar bem, que ele se foi adensou, aproximou e ficou cada vez mais nítido e brilhante.
Não consegui captar nem a sua beleza nem a sua força, mas nunca tinha visto um arco-íris assim tão grande e tão definido e nem nunca consegui ver os dois lados ao mesmo tempo como hoje aconteceu.
Sinal de um deus (de quem um dia mais tarde  vos falarei) para me lembrar de que estamos bem. De que ficaremos bem, independentemente do que isso possa significar...
Fiquem confiantes também 🌈


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