Era nestes
momentos que amaldiçoava o fato de ser tão teimosa.
Que mania esta de achar que valia sempre
a pena tentar salvar a relação que se tem com quem, por um motivo ou por outro, se
gosta de verdade.
Já em várias
situações da sua vida tal característica se tinha revelado destrutiva e a
tinha conduzido a sofrimentos interiores maiores do que os necessários, se
soubesse, facilmente, largar os afetos que a vida afastava de si.
Nunca teve essa
grandiosidade: nem de proteger boas amizades de circunstância das suas
ausências e silêncios, nem de libertar aquelas que guardava com mais carinho.
Era-lhe difícil sentir-se ligada, estabelecer uma relação profunda e
verdadeira.
Era-lhe difícil confiar, mas mais ainda, era-lhe difícil reconhecer
interesse na personalidade de alguém.
Revelava-se improvável encontrar pessoas
que se transformassem em objeto do seu desejo, da sua admiração, do seu reconhecimento, do seu respeito ou da sua empatia.
Muito raramente se via envolvida com os outros, de modo a
querer a todo o custo manter-se por perto.
Dificilmente lhes conhecia
maturidade para lhes contar as verdades, os segredos e as manias de que se
revestia a sua vida e a sua forma de estar.
Nas suas buscas pelo autoconhecimento tinha concluído que, talvez por esse motivo, lhe fosse sempre
tão difícil perder alguma das poucas pessoas de quem gostava instantânea e
eternamente.
Enchia-lhe o peito de amargura sempre que antecipava o desatar dos
laços tão cuidadosamente apertados.
Entristecia-a de
verdade saber que, em pouco tempo se perderia o privilégio de poder ser
genuína, autêntica e que muito em breve as conversas se revestiriam do mesmo
que todas as outras conversas com todas as outras pessoas: cuidado, reserva,
meias verdades, meias respostas, parcialidades, silêncios.
Era como se lhe
ferissem o corpo sempre que as circunstâncias lhe levavam assim, tão
cruelmente, uma pessoa que considerasse especial.
T. (2014)
(participação no projeto as-sukar no tema azulejos)
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