sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Memórias


Relembra-me uma aplicação das redes sociais que há seis anos publiquei esta imagem juntamente com umas palavrinhas que se referiam às saudades do verão e dos sobrinhos.

Lembro-me de quando me foi tirada esta fotografia. Parece-me para aí do ano de 2005 ou 2006. Estava de férias de verão em casa dos meus pais. Era domingo. Estava calor demais para passear pela cidade e como habitualmente servi-me da minha bengala (o meu sobrinho mais velho) para justificar a ida para o parque de estacionamento.
Sempre gostei de rua. As paredes arquitetónicas balizam-me o pensamento e as sensações. Desde sempre senti essa necessidade de me colocar perante horizontes abertos, claros, limpidos. Quase como uma calibração dos sentidos. Descobri muito mais tarde que para um certo grupo de pessoas isto não é tão estranho assim.

O meu sobrinhito deliciou-se com um pouco de areia que havia ali e a minha mãe acabou por captar o momento de uma janela da casa com um telemóvel  (daí o "ruído" da imagem).

Eu sei que me sentia atordoada, numa daquelas fases da nossa vida em que tudo acontece depressa demais e em que as decisões  (no momento tão decisivas e exclusivas) se apresentam sucessivamente sem trazer consigo certezas nem nos fatores nem nas consequências.

Cinco ou seis anos mais tarde, ao encontrar esta imagem no computador, postei-a na tal rede social com uma legenda que apenas eu podia verdadeira e totalmente conhecer conhecer.
Em 2010 fechava-se um dos ciclos mais transformadores da minha vida.
As escolhas tinham sido feitas, a essência encontrada, quer pelo reforço positivo quer pelas experiências negativas. A sensação de desorientação era recorrente, como o é em quem decide desbravar caminho e se mete, invariavelmente, em matos cerrados.
Era um desses momentos em que a casa de família, o verão e o amor incondicional dos nossos se afigurava com o valor de água no deserto.

Hoje, quando sou outra vez recordada deste momento, não me sinto desorientada e estou onde antes queria estar, embora já não sentisse disso necessidade. Às vezes tenho a sensação que a vida tem um certo "delay" em relação aos meus desejos. Sou mais rápida do que os desígnios da vida em incorporar as situações e criar novas vontades a partir delas.

Hoje, há em mim uma melancolia doce em relação a estes momentos partilhados com esta pequenina e desaparecida pessoa que hoje já é um adolescente consumado, mas a quem continuo ligada por laços que idade ou distância alguma conseguirão quebrar.

Essa melancolia estende-se também à outra pessoa. Uma versão mais nova de mim que durante anos foi minha companheira, mas que agora vejo de fora e de quem continuo orgulhosa. Era determinada, sonhadora, empreendedora. Um pouco mais triste e preocupada do que seria necessário. Não conseguiu tudo o que queria,  mas foi surpreendida por tudo o que foi amealhando e que na maioria das vezes nem teve tempo ou coragem para querer.
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