Miguel González
A todos os espetáculos se segue o silêncio.
A todas as luzes a escuridão.
A todas as novidades, a velhice.
A todos os inícios, o fim.
Podemos querer evitá-lo, esticá-lo, fazê-lo durar. Podemos ter a ilusão de criar ao longo da experiência a capacidade para lhes dar a volta, para aquecer a ponta do fim de forma a poder trabalhá-la e dar-lhe uma forma redonda que permita que tudo comece novamente.
Podemos ignorar esta constatação e seguir sempre em frente como aquele que nada sabe e nada tem a temer, aquele que vive tudo como se não houvesse outro tempo, outra forma, outra intensidade de fazer as coisas.
Podemos. Mas não modificaremos a ordem natural das coisas.
O que nos resta é olhar o que se tornou silêncio, escuridão, abandono, velhice e fim com olhos de doçura e sorrisos de divertimento.
Se isto é o que nos resta e se são as memórias que permanecem, o melhor é olhá-las assim, de forma suave, esperançosa e descobrir nelas singularidades, pedaços de nós, conversas...
Deixar que nos invadam com a sua força, com o seu carisma, com a sua proximidade e com a sua irremediável, mas segura decadência.
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