terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Jogado fora...

      
       fotografia de  marta filipa




Não sei se será por ser suposto ser Inverno e não parecer, se será por estar tudo pronto para que aconteça e não acontecer, se é apenas o rescaldo de uns dias de descanso, mas tenho andado com a cabeça cheia de preguiça e pensamentos pouco ambiciosos...

Não posso reclamar do clima, mas embora todos os dias pense em apanhar um bocadinho de sol e fazer algo de que realmente goste quando chegar a casa, acabo sempre por me encolher em frente ao televisor que ao fim de algumas horas me devolve a mim mesma com uma sensação de incumprimento que me compele a comer e a comer, o que, de forma viciosa, me vai deixar ainda mais irritada comigo mesma.

Hoje, segundo dia de um fim de semana de sol, o mau humor era de tal forma carregado que julguei que talvez fosse boa ideia ficar simplesmente na cama o dia todo... começo finalmente a reconhecer este espaço como familiar enquanto estou a dormir e tenho aproveitado esta não obrigação para fazer ou para estar com alguém para dormir até mais tarde, mas o dia todo nunca me tinha passado pela cabeça...

Mas não o fiz. Passado vinte minutos recordei-me de quanto mais tempo estivesse nesta inatividade mais triste iria ficar e por isso levantei-me e fiz todas as tarefas que ontem não quis fazer e que embora não tenham nada de particularmente interessante iriam contribuir para a leveza do meu pensamento e para o meu bom humor por a casa estar minimamente limpa e organizada.

Há muito que não ouvia música. Estava cansada das músicas do meu telemóvel e deixei simplesmente de as ouvir.... Mas tudo era melhor do que ouvir estes meus pensamentos a gritar-me constantemente as mesmas coisas infundadas e parvas de quem até parece não ter nada mais sério com que se preocupar.

Daí a sentar-me na varanda a apanhar sol foi só um pulinho. Agora já me reconheço mais e não percebo porque não o faço mais vezes.

Percebo que tenho saudades do mar, da areia, da facilidade em andar na rua sozinha, em ter onde ir... Aceito que tenho saudade de sentir borboletas no estômago e vontade de estar com alguém.
Reconheço que nem sempre sei transformar esta solidão em algo produtivo e que por vezes os sonhos de "Rapunzel" se fazem ouvir mais do que os ecos de uma vida individual plena.
Receio ficar presa nestes muros principalmente por não ter coragem de pular por cima deles sem ter a certeza de haver um trampolim do lado de fora onde possa cair e voltar a saltar....


                    
                            fotografia de marta filipa
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