segunda-feira, 11 de julho de 2016

Especiais



Não é muito frequente conhecer pessoas interessantes, com essência particular e conteúdo trabalhado, preenchido, coeso. Pessoas com vontade própria, capacidade de realização e que se posicionam na vida de forma singular, recebendo o que, a maioria dos outros, nem consegue conceber.

É raro, mas não é grave. Primeiro porque a sociedade não se importa com estes seres iluminados e pensantes que vivem por si próprios, insensíveis a massas e frases feitas. Depois porque estas pessoas também não têm como objetivo mostrar-se. O que as move é um genuíno interesse em algo que não precisa de se concretizar em nenhuma das habituais fontes de retorno: fama, reconhecimento, dinheiro ou segurança.

Sempre que me é dada a possibilidade de me cruzar com alguém assim,com mais ou menos possibilidade de conhecer toda a sua dimensão, o meu coração enche-se de esperança na humanidade e emociona-se pelo privilégio.Privilégio esse que cabe nos dedos de uma mão, mas que é tão especial que compensa a parca quantidade.

A todos os que, discretos e empenhados, dão horas e horas da sua vida nos pequenos projetos que desenvolvem inspirados pelas suas grandes paixões (especialmente aos que se dedicam ao público ou os que, no meio do processo, vão educando e sensibilizando as camadas mais jovens), o meu -gostaria muito de dizer o nosso - sincero agradecimento.

Ficamos todos mais ricos com a vossa partilha e eu fico sempre muito reconhecida pela vossa generosidade que é tão mais especial quanto mais difícil é o reconhecimento dessa dedicação. O verdadeiro valor está nos que continuam a lutar para ser a água que desgasta a pedra. A sociedade no seu conjunto é pouco sensível e maleável. Só a persistência e delicadeza podem transformá-la em personalidades mais capazes de ser únicas e maleáveis o suficiente para se poderem unir.

Esta é uma missão que estimo muito, tal como a todos os que tentam dar o seu contributo para a cumprir.



sexta-feira, 1 de julho de 2016

O Amor nos Tempos de Cólera


Quem me conhece ou já me segue há algum tempo sabe que um dos meus hábitos mais enraizado e queridos é ler. Aceito ler tudo o que me chega às mãos, e embora não seja daquelas que continua a ler um livro por obrigação ou porque fica bem, dou oportunidade e às vezes leio tudo até ao fim na esperança de uma reviravolta.
Este modo de estar na leitura acaba por me fazer muitas vezes encontrar piada em tipos de narrativa mais particulares. Tal como nos filmes aprecio bastante as narrativas abertas e os romances que são mais como crónicas de vidas intimas e aparentemente banais. Aprendi a gostar desta surpresa que se sente ao virar de cada página entre o registo rude das personagens e a descoberta da sua complexidade interior.
Quem lê muito e há muitos anos também sabe que, como em tudo na vida há momentos, e apesar de conceituado autor e de muitos dos meus amigos leitores me falarem de várias obras nunca tinha conseguido ler nada até agora.
Mas a verdade é que este livro me cativou verdadeiramente em dias em que poucas coisas o conseguiam fazer e sinto que Fermina Daza e Florentino Ariza me acompanharão por muitos e muitos anos.
Recomendo a quem goste deste tipo de literatura mais aberta e a quem tenha paciência para ler e ler sem nada acontecer.


"Queria voltar a ser ela própria,  recuperar tudo quanto tivera de ceder em meio século de servidão que a fizera feliz, mas que, uma vez falecido o marido não lhe deixava a ela nem os vestígios da sua identidade. Era um fantasma em casa alheia,(...) perguntando-se angustiada quem estava mais morto: o que tinha morrido ou a que tinha ficado?"

"Era como se tivessem saltado por cima do árduo calvário de vida conjugal e tivessem entrado diretamente e sem mais delongas no amor. Seguiam em silêncio como dois velhos esposos escaldados pela vida, para lá das armadilhas da paixão, para lá das trapaças brutais das ilusões e dos reflexos dos desenganos: para lá do amor. Pois tinham vivido juntos o suficiente para se darem conta de que o amor era amor em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas tanto mais denso quanto mais próximo da morte."
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