quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"Solteira & Feliz"



É o título de um livro que a minha mãe me ofereceu em 2004, depois de uma das suas semanais idas dominicais (não à missa mas ao hipermercado) em que chegou sorridente com o livro na mão para me oferecer. 
Para além do acaso e do meu inegável gosto pela leitura, incentivou-a o fato de ter recentemente acabado uma relação de sete anos. Uma daquelas relações juvenis em que tudo é para sempre, é para nós, é o que está certo e não admite interferências.
Uma relação assim, cimentada em horas e horas (e horas) de partilha diária, de jantares à luz das velas, de festas de estudante, de muitas passagens de ano e aniversários. 
Uma relação que se cimentou e se gastou no mesmo elemento: o tempo; e que se desfez na distância física e de pensamento (que sempre existira e que se foi tornando cada vez mais evidente).
Ainda assim, a minha primeira relação séria tinha acabado há uns meses e a minha mãe trouxera-me o livro do supermercado num gesto divertido. Na altura, sentia-me pouco solteira e de tal forma fui sendo feliz que depois de ler umas vinte páginas, encostei o livro, comentei com alguém como são deprimentes e previsíveis os livros de auto-ajuda e guardei-o nas recordações (por ter sido a minha mãe a oferecer-mo num espontâneo gesto de apoio, como quem pisca o olho, como quem sabe que não era necessário).
Na verdade nunca mais o vi. Aos meus magníficos 25 anos, cheios de noitadas, casas novas, muitos amigos, muitos namoricos, cheia de projetos e de mudanças de cidade, não tive a maturidade necessária (nem conhecia o mundo o suficiente) para lhe dar algum valor.
Há uns meses encontrei-o e embora não tenha (uma vez mais) acabado de o ler, encontrei-lhe mais verdade. Li relatos que podiam ter sido os meus e verifiquei, tal como já tinha percebido, que os fins das relações não são todos iguais, tal como não o são as relações em si. 
Li-o numa qualquer semana de mau humor, reconheci-lhe os traços, mas na verdade julguei não ter aprendido nada com ele e desta vez não me lembro de o ter mencionado em nenhuma conversa.
No entanto, no meu dia a dia, que já não é um fim de relação nenhuma, lembro-me muito dele, porque são inevitáveis os pensamentos ocasionais menos positivos em relação ao fato de ter, como eu gosto de dizer, uma vida muito "individual". Tem sido nestes momentos que me lembro do que li neste livro que classifiquei de auto-ajuda (e acho que este recorrer-lhe faz jus a esta classificação). Nele referia-se muitas vezes que devemos procurar os nossos melhores amigos para nos mimarem e tomarem conta de nós nos momentos em que estamos mais frágeis. 
Quem me conhece sabe que tenho que estar já "partida" para procurar alento em quem quer que seja e por isso descobri que tenho sido a melhor amiga de mim mesma. Que me mimo muitas vezes com um copo de vinho tinto, com um chá quentinho, com maçã quente com canela, com um bom filme, com uma caminha cheirosa, com um spa.
E descobri assim, com algo que me foi oferecido há mais de dez anos atrás que, às vezes, se estivesse acompanhada a minha vida, ou a vida que eu quereria ter, seria exatamente igual e que só depende mesmo de nós saber rodear-nos do que nos anima e procurar momentos para ser feliz.


Fotografia de Martin Neuhof
guida disse...

E pior do que estar só... é estar acompanhada e só!!!!

Teresa Margarida Costa disse...

Concordo plenamente :)

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