domingo, 15 de fevereiro de 2015

fevereiro, mês do coração

Afinal janeiro não se revelou assim um mês tão interior. Com visitas cá em casa, aproveitámos as viagens obrigatórias a Lisboa para conhecer mais, caminhar, tirar fotografias, rir e stressar um bocadinho. Que a vida de verdade é mesmo assim, sem tempos arrumados para cada coisa. Os momentos de irritação e responsabilidade misturam-se com os de lazer, as dietas saudáveis estragam-se com fatias de bolo de chocolate, as cicatrizes embrulham-se em sorrisos, o frio de Inverno e a chuva gelada contrariam-se com o pôr de sol em locais de verão.


Foi assim um mês muito diferente de todos os destes últimos doze anos. Com pessoas dentro da porta de minha casa com quem falar quando volto do trabalho, com carne para o jantar, com cupcakes para o lanche e mesa posta para os pequenos almoços.

Não que precisasse de o viver para saber que dele tenho saudades. De tempos a tempos vou-lhe sentindo o gostinho e reforçando a certeza de que a vida se preenche, se adoça, se simplifica e se embeleza em mil expoentes quando a percorremos mais acompanhados do que sós e quando a partilhamos com as pessoas certas. Com aquelas que nos querem bem, que nos querem lá e que irão sempre estar ao nosso lado... acima de tudo... apesar de tudo.
Mas este é um tema demasiado recorrente em mim e por isso não quero demorar-me muito nele.



Também me passa muitas vezes pelo pensamento (embora ache que nunca escrevi sobre isso- tal como não chego a escrever sobre um décimo das coisas que penso e que gostaria de partilhar) que gosto muito de passar tempo com pessoas mais novas. Gosto de lhes ouvir os sonhos e os projetos. De os ver desfazer barreiras em simples saltos que nem chegam a dar e de os imaginar a cair e a levantar-se, a crescer e a construir outros sonhos contando com uma ou outra barreira.



Sinto empatia por eles, pelos seus olhos brilhantes, pelas frases que constroem no futuro, pelo tempo que dispensam ao presente e pelo pouco caso que dão ao passado.
Ouvindo-os sinto-me mais velha e nostálgica, mas no bom sentido, naquele em que coloco todo o meu ser à beirinha do degrau e me recordo  a sentir as mesmas coisas e a pensar mais ou menos igual. Tal como outros em todas as épocas, reconheço as clássicas preocupações, irritações, frustações e sorrio ao imaginar-lhes as arestas da personalidade mais arredondadas...

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Inspira-me a sua certeza de que é sempre dia de começar de novo, de começar de verdade. Gosto de sentir que ainda há tempo. Que há-de haver sempre tempo!

Por isso, de tanto sentir, de tanto pensar, fica o meu coração cheia e passa fevereiro com o tempo a fugir-me da mão.


Fotografias de Marta Filipa Costa

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