segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Lado Lunar

momentos captados - miguel ângelo
Há dias que são assim como existentes apenas para servir de simples constatações da grandiosidade do meu lado lunar.
Espetacular, irresistível, magnâmico...
Que todos o temos não é novidade, principalmente para quem cresceu a ouvir o Lado Lunar de Rui Veloso, mas se ele é assim tão incapacitante em todos como em mim é que não sei.
É que o meu espanta-me a mim própria! Surpreende-me de cada vez pelo seu retorcido humor, pela sua impiedosa perspicácia.
Mostra-me facetas que não julgava conter, em que não me revejo, às quais não quero ceder.
Serve-se da antítese do Eu que acredito ser nos dias em que predomina o meu lado solar.
É nele que sou sempre demasiado impaciente, pequena, fraca, incapaz de ação que se faça grande, como um barco encalhado em areia, sem a liberdade do mar e sem a segurança da terra firme. 
Quando ele se faz presente, o mundo torna-se negro, frio, irritante e irremediavelmente previsível, condenado, construído no extremo da dor e da frustação, sem regra, sem princípios, sem valores.
É como um rei que vive em mim e que me governa sempre que o meu exército descansa. Preverso como um demónio, feroz como um animal, desesperado como um prisioneiro...


fotografia de Miguel Ângelo - "Momentos Captados"

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A teoria de tudo



Uma história inspiradora, onde a esperança e a vontade das pessoas fazem acontecimentos extraordinários.
A vida em si, que se mantém. 
Um dia atrás do outro, obrigando à busca de um propósito, de um continuar.





quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"Solteira & Feliz"



É o título de um livro que a minha mãe me ofereceu em 2004, depois de uma das suas semanais idas dominicais (não à missa mas ao hipermercado) em que chegou sorridente com o livro na mão para me oferecer. 
Para além do acaso e do meu inegável gosto pela leitura, incentivou-a o fato de ter recentemente acabado uma relação de sete anos. Uma daquelas relações juvenis em que tudo é para sempre, é para nós, é o que está certo e não admite interferências.
Uma relação assim, cimentada em horas e horas (e horas) de partilha diária, de jantares à luz das velas, de festas de estudante, de muitas passagens de ano e aniversários. 
Uma relação que se cimentou e se gastou no mesmo elemento: o tempo; e que se desfez na distância física e de pensamento (que sempre existira e que se foi tornando cada vez mais evidente).
Ainda assim, a minha primeira relação séria tinha acabado há uns meses e a minha mãe trouxera-me o livro do supermercado num gesto divertido. Na altura, sentia-me pouco solteira e de tal forma fui sendo feliz que depois de ler umas vinte páginas, encostei o livro, comentei com alguém como são deprimentes e previsíveis os livros de auto-ajuda e guardei-o nas recordações (por ter sido a minha mãe a oferecer-mo num espontâneo gesto de apoio, como quem pisca o olho, como quem sabe que não era necessário).
Na verdade nunca mais o vi. Aos meus magníficos 25 anos, cheios de noitadas, casas novas, muitos amigos, muitos namoricos, cheia de projetos e de mudanças de cidade, não tive a maturidade necessária (nem conhecia o mundo o suficiente) para lhe dar algum valor.
Há uns meses encontrei-o e embora não tenha (uma vez mais) acabado de o ler, encontrei-lhe mais verdade. Li relatos que podiam ter sido os meus e verifiquei, tal como já tinha percebido, que os fins das relações não são todos iguais, tal como não o são as relações em si. 
Li-o numa qualquer semana de mau humor, reconheci-lhe os traços, mas na verdade julguei não ter aprendido nada com ele e desta vez não me lembro de o ter mencionado em nenhuma conversa.
No entanto, no meu dia a dia, que já não é um fim de relação nenhuma, lembro-me muito dele, porque são inevitáveis os pensamentos ocasionais menos positivos em relação ao fato de ter, como eu gosto de dizer, uma vida muito "individual". Tem sido nestes momentos que me lembro do que li neste livro que classifiquei de auto-ajuda (e acho que este recorrer-lhe faz jus a esta classificação). Nele referia-se muitas vezes que devemos procurar os nossos melhores amigos para nos mimarem e tomarem conta de nós nos momentos em que estamos mais frágeis. 
Quem me conhece sabe que tenho que estar já "partida" para procurar alento em quem quer que seja e por isso descobri que tenho sido a melhor amiga de mim mesma. Que me mimo muitas vezes com um copo de vinho tinto, com um chá quentinho, com maçã quente com canela, com um bom filme, com uma caminha cheirosa, com um spa.
E descobri assim, com algo que me foi oferecido há mais de dez anos atrás que, às vezes, se estivesse acompanhada a minha vida, ou a vida que eu quereria ter, seria exatamente igual e que só depende mesmo de nós saber rodear-nos do que nos anima e procurar momentos para ser feliz.


Fotografia de Martin Neuhof

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Mulheres ao Ataque



Mais um daqueles temas jamais esgotados :)

Um filme muito divertido, cheio de mulheres bonitas e que nos faz ver as traições como simples pedras no caminho... que nos fazem tropeçar e, às vezes cair, mas que não passam disso mesmo... insignificantes pedras no caminho :)

domingo, 15 de fevereiro de 2015

fevereiro, mês do coração

Afinal janeiro não se revelou assim um mês tão interior. Com visitas cá em casa, aproveitámos as viagens obrigatórias a Lisboa para conhecer mais, caminhar, tirar fotografias, rir e stressar um bocadinho. Que a vida de verdade é mesmo assim, sem tempos arrumados para cada coisa. Os momentos de irritação e responsabilidade misturam-se com os de lazer, as dietas saudáveis estragam-se com fatias de bolo de chocolate, as cicatrizes embrulham-se em sorrisos, o frio de Inverno e a chuva gelada contrariam-se com o pôr de sol em locais de verão.


Foi assim um mês muito diferente de todos os destes últimos doze anos. Com pessoas dentro da porta de minha casa com quem falar quando volto do trabalho, com carne para o jantar, com cupcakes para o lanche e mesa posta para os pequenos almoços.

Não que precisasse de o viver para saber que dele tenho saudades. De tempos a tempos vou-lhe sentindo o gostinho e reforçando a certeza de que a vida se preenche, se adoça, se simplifica e se embeleza em mil expoentes quando a percorremos mais acompanhados do que sós e quando a partilhamos com as pessoas certas. Com aquelas que nos querem bem, que nos querem lá e que irão sempre estar ao nosso lado... acima de tudo... apesar de tudo.
Mas este é um tema demasiado recorrente em mim e por isso não quero demorar-me muito nele.



Também me passa muitas vezes pelo pensamento (embora ache que nunca escrevi sobre isso- tal como não chego a escrever sobre um décimo das coisas que penso e que gostaria de partilhar) que gosto muito de passar tempo com pessoas mais novas. Gosto de lhes ouvir os sonhos e os projetos. De os ver desfazer barreiras em simples saltos que nem chegam a dar e de os imaginar a cair e a levantar-se, a crescer e a construir outros sonhos contando com uma ou outra barreira.



Sinto empatia por eles, pelos seus olhos brilhantes, pelas frases que constroem no futuro, pelo tempo que dispensam ao presente e pelo pouco caso que dão ao passado.
Ouvindo-os sinto-me mais velha e nostálgica, mas no bom sentido, naquele em que coloco todo o meu ser à beirinha do degrau e me recordo  a sentir as mesmas coisas e a pensar mais ou menos igual. Tal como outros em todas as épocas, reconheço as clássicas preocupações, irritações, frustações e sorrio ao imaginar-lhes as arestas da personalidade mais arredondadas...

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Inspira-me a sua certeza de que é sempre dia de começar de novo, de começar de verdade. Gosto de sentir que ainda há tempo. Que há-de haver sempre tempo!

Por isso, de tanto sentir, de tanto pensar, fica o meu coração cheia e passa fevereiro com o tempo a fugir-me da mão.


Fotografias de Marta Filipa Costa

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