Há dias que são assim como existentes apenas para servir de simples constatações da grandiosidade do meu lado lunar.
Espetacular, irresistível, magnâmico...
Que todos o temos não é novidade, principalmente para quem cresceu a ouvir o Lado Lunar de Rui Veloso, mas se ele é assim tão incapacitante em todos como em mim é que não sei.
É que o meu espanta-me a mim própria! Surpreende-me de cada vez pelo seu retorcido humor, pela sua impiedosa perspicácia.
Mostra-me facetas que não julgava conter, em que não me revejo, às quais não quero ceder.
Serve-se da antítese do Eu que acredito ser nos dias em que predomina o meu lado solar.
É nele que sou sempre demasiado impaciente, pequena, fraca, incapaz de ação que se faça grande, como um barco encalhado em areia, sem a liberdade do mar e sem a segurança da terra firme.
Quando ele se faz presente, o mundo torna-se negro, frio, irritante e irremediavelmente previsível, condenado, construído no extremo da dor e da frustação, sem regra, sem princípios, sem valores.
É como um rei que vive em mim e que me governa sempre que o meu exército descansa. Preverso como um demónio, feroz como um animal, desesperado como um prisioneiro...
É como um rei que vive em mim e que me governa sempre que o meu exército descansa. Preverso como um demónio, feroz como um animal, desesperado como um prisioneiro...
fotografia de Miguel Ângelo - "Momentos Captados"