" Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar do que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. é preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e ações de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo." Dulce Garcia - Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum
Intimista, com um ritmo rápido e mais companheiro que surpreendente. Um livro sobre a vida e as relações entre seres humanos.
"Foi a Cármen que me deu uma fotocópia desta pérola... que tinha apanhado o texto num livro que alguém deixara no seu salão de beleza. Miguel Esteves Cardoso seria bem capaz de o ter escrito para mim. Se tivesse o número dele ligava-lhe a perguntar como é que adivinhou que é isto que sinto..." Dulce Garcia - Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum