Seja por vício, hábito, feitio ou só porque sim, sou pessoa de balanços, paragens, reflexões. Não avanço na vida sem a reviver e repensar. Nunca assim fui. Quando era mais nova revivia o dia à noite na almofada, era quando sonhava, quando imaginava, quando havia silêncio para isso.
Agora à noite assombram-me os
problemas que não consigo imediatamente resolver e os medos próprios de quem
vai envelhecendo e tomando consciência das barreiras, da quantidades dos que
mesmo sonhando sofrem quedas irreparáveis, dos que nunca têm hipótese de tentar
saltar as barreiras, dos que ficam para trás, dos que a custo temos que largar
para progredir.
Por isso agora são dispersos os
momentos de pausa no meu dia-a-dia: quando tomo banho, quando tomo chá, quando
olho pela janela. Ou seja, sempre que me dou um tempo de pausa para confirmar o
caminho, como quem pára para beber água e consultar novamente o mapa.
Não consigo, por isso, passar
estas fases de convencionais balanços sem os fazer. Mais um ano passou. Mais um
verão, mais um Natal. Aproxima-se mais um 1.º dia de um ano inteiramente novo.
Irremediavelmente questiono-me se o aproveitei bem, se soube dirigi-lo onde me
tinha proposto, se cumpri as promessas que fiz a mim mesma.
2015 foi um ano especial (como o
são todos, talvez). Ano de sair da casca, arriscar, voltar a pôr o pé fora do
círculo e começar tudo de novo. Depois de anos de reconstrução foi ano de
inaugurar a “casa nova”, de deixar o mundo entrar. Esperei sempre que estes
anos de introspeção me trouxessem mais calma, ponderação e sabedoria para saber
lidar com o que me perturba.
Apesar de ter sido um ano muito
difícil e cheio de novos obstáculos para os quais não me tinha preparado, foi
reconfortante perceber que mesmo no meio da tormenta não foi difícil agarrar-me
às pequenas coisas e que na escolha dos projetos a adiar não foi difícil
sentir-me realizada com aqueles que mantive em desenvolvimento e que de entre
todas as “vidas” que podia ter, esta, não sendo perfeita nem parecida com a que
tinha imaginado, é provavelmente a que mais combina com o que escolho, com o
que penso e com o que sinto.
Numa fase em que a finitude da
vida se torna mais real do que nunca, embora (fantasiosa mas) confortavelmente
distante, prometi ser mais ativa na busca do estilo de vida que me faz feliz,
dar menos “tempo de antena” às pessoas a quem não reconheço suficiente valor ou
que me atrapalham gratuitamente.
Nenhuma destas promessas é tarefa
fácil, principalmente para quem trabalha com pessoas e chega de novo, assumindo
um cargo de destaque num ambiente profundamente hostil. Por isso nem sempre sou
bem sucedida. Mas as vezes em que sou confirmam que com tempo conseguir cada
vez melhor controlar aquilo e aqueles com que quero gastar o meu tempo ou
oferecer o meu ser.
Que 2016 chegue ainda em rescaldo
da fraternidade que une as pessoas no natal.
Para mim, que venha igualmente
desafiante e de preferência com um bolso recheado de “docinhos” para distribuir
ao longo do ano.
Para os meus amigos e para todos
os que me querem bem que seja um ano a que deem a volta facilmente e no qual
sejam muito felizes. É essa felicidade alheia que me conforta e que me faz ter
a que aspirar.
Para todos os outros que seja um
ano de paz.
T.
Fotografia em searchingfortomorrow
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