Não tenho escrito muito.
Não tenho muito tempo.
Falta-me a energia e a minha relação com o computador tem estes momentos de frieza em que nem o quero ver, quanto mais aproximar-me dele.
Tenho passado muitos momentos em silêncio. Não aquele silêncio de não ter com quem conversar, mas o silêncio mental. Aquele em que rejeito os estímulos externos: os livros, a música, a televisão...
Às vezes consigo até desligar os pensamentos: os novos projetos, as ideias para o trabalho, os afazeres domésticos.
Tenho sacudido de mim muita poeira.
A vida como um ciclo tem sido isto: acumular experiências, tomar posição sobre as consequências, incorporar atitudes, temer, perder, sofrer e depois, num qualquer momento, deixar entrar a luz, separar a poeira do essencial, largar.
Assim, como se de um processo fácil se tratasse: confrontar-me com as grandes verdades da vida e sentir a aceitação cair em mim levemente, como um véu.
Não a aceitação resignada, mas a suave sensação de não ter que ter sido de outra maneira.
Porque não esta maneira? Porque não este caminho?
Um dia destes, uma amiga disse-me que quando está muito triste lembra-se que é só um momento e que no dia seguinte já não vai sentir-se tão mal. Espantei-me com a clareza deste discurso, pois eu própria já tinha chegado à conclusão que num mesmo conjunto de circunstâncias nos podemos sentir muito tristes ou muito contentes e que tudo depende, essencialmente, do nosso olhar sobre a situação. Ao longo da vida, nem todos nos colocamos as mesmas questões, nem todos temos as mesmas circunstâncias, os mesmos percalços, o mesmo grau de curiosidade ou insatisfação. Estas questões internas são diferentes em cada um de nós e moldam-nos de forma divergente.
Desconfio, no entanto, que ao longo da história da humanidade as inquietações e as reflexões se repitam de forma intemporal. Pelo menos é o que acontece com muitas das minhas. Encontro conforto e semelhança nos locais mais improváveis e tenho cada vez mais dificuldade em compreender os comportamentos dos meus pares.
Isso torna-me esquisita e socialmente incapacitada. Eu sei.
Evito partilhar a minha opinião e tento contrariar esta ideia de aborrecimento que instantaneamente se agrega a maioria dos eventos sociais a que compareço.
Também pode ser da idade. Não sei. Talvez com o tempo perceba.
Fica apenas a partilha de que o silêncio se tornou um companheiro meigo e compreensivo que me coloca muitas vezes um doce sorriso nos lábios.
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